LOC.: O Brasil fechou o ano passado com o segundo maior déficit primário da história: 230,5 bilhões, o que representa 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB). O rombo só perde para 2020, quando vivemos o auge da pandemia de Covid-19.
Quando falamos em finanças, planejamento nem sempre é sinônimo de sucesso. Despesas inesperadas e faturas que não estavam previstas podem desorganizar as contas e aumentar o rombo financeiro. Isso vale para qualquer situação — inclusive, para as contas públicas.
Gastos com precatórios, que foram quitados no fim do ano passado, e a compensação da União aos estados e municípios pelas perdas com a redução do ICMS em 2022, segundo o Ministério da Fazenda, foram os culpados pelo déficit inflado. O economista e doutor em Ciências Políticas pela UNICAMP Felipe Queiroz, explica o que, na prática, esses números podem impactar a vida da população.
TEC/SONORA: Felipe Queiroz, economista e doutor em Ciências Políticas pela UNICAMP
“Pode produzir — mas não necessariamente produzirá — um efeito inflacionário. Pode afetar o ciclo de redução da taxa de juros e, em última instância, afetar o custo do crédito para o cidadão comum, e aumentar a taxa de juros para o financiamento que ele já tenha, ou não.”
LOC.: A ressalva, segundo Felipe Queiroz, é que há um conjunto de outras variáveis que influenciam no momento do resultado final da inflação — e não apenas o gasto do governo.
O número negativo de 2023 pode ter reflexo nas contas de 2024. Luigi Mauri, economista, explica que a expectativa do ministro Haddad — de conquistar o déficit zero — pode estar mais longe do que o que ele gostaria.
TEC/SONORA: Luigi Mauri, economista
“Nós temos a certeza de que aumentam-se as dúvidas com relação à possibilidade de déficit zero em 2024. As chances já eram consideradas baixas, e agora com esse resultado, a expectativa é muito maior de que o governo não vai ter a capacidade de cumprir essa meta.”
LOC.: Dados divulgados pela Secretaria do Tesouro Nacional mostram que a receita total do governo em 2023 foi de R$ 1,931 trilhão — queda de 2,2% em termos reais em relação a 2022. Já os gastos no mesmo ano foram de R$ 2,162 trilhões — com alta real de 12,5% em relação ao ano anterior.
Reportagem, Lívia Braz