Neste episódio, o Hepatologista, Mário Guimarães Pessoa fala sobre hepatite alcoólica e cirrose
Você conhece alguém que ingere bebida alcoólica em excesso? Sabe o que o álcool pode fazer com seu fígado?
A hepatite alcoólica é uma inflamação que ocorre no fígado devido ao uso abusivo de álcool. Após muitos anos de inflamação, o tecido do fígado é substituído pela fibrose, o que pode levar à cirrose. O processo de metabolização do álcool que ingerimos ocorre no fígado, e tem como resultado a produção de algumas toxinas, que podem agredir o fígado levando a um processo de inflamação e cicatrização exacerbada, a fibrose hepática.
Ao longo de muitos anos de agressão ao fígado, essas cicatrizes substituem as células normais do fígado, e o resultado disso é um fígado com muitas cicatrizes e endurecido, a chamada cirrose.
É importante destacar que o fígado é uma órgão silencioso, e no início do processo inflamatório o paciente não costuma apresentar sintomas. Os principais sintomas da hepatite alcoólica grave incluem:
Não ocorrendo a parada da ingestão alcoólica, o caso do paciente vai evoluindo para cirrose e insuficiência do fígado, e nesses casos podem apresentar as complicações da cirrose que são:
Quando a cirrose se desenvolve, o fígado fica extremamente duro, dificultando a circulação do sangue por dentro dele. Quando isso ocorre, parte do sangue que iria passar por ele é desviado para outras veias menores, principalmente do estômago e do esôfago. O problema é que essas veias menores possuem paredes finas e podem romper, causando sangramento. Se o paciente rompe umas dessas varizes no esôfago, ele apresenta tosse com sangue e sangramento nas fezes.
Você deve procurar o médico para a avaliação correta, o diagnóstico da hepatite alcoólica é realizado por meio de exames de imagem e biópsia do fígado. A história clínica e entender o consumo de álcool do paciente e o exame físico pode ajudar.
O tratamento mais importante é a parada completa do consumo de bebidas alcoólicas, o que pode reverter parcial ou totalmente os danos causados pelo álcool. Sabemos que não é fácil para o dependente parar de beber, medicação, psicoterapia, apoio de grupos, uma orientação de um profissional especializado e até mesmo a internação podem ajudar nesse processo.
O segundo passo é a orientação da dieta corrigindo o déficit nutricional causado pelo álcool, de preferência com o acompanhamento de uma nutricionista. E em casos mais graves de hepatite alcoólica, o paciente necessita de internação hospitalar.
O consumo exagerado de álcool não causa apenas a hepatite aguda, crônica e cirrose no fígado, pode causar também outros problemas no fígado, por exemplo, em pacientes que têm hepatite B ou hepatite C, podem causar tumores de fígado. Além disso, pode estar associado a outros problemas como perda de memória, anemia, osteoporose, câncer e baixa imunidade.
Para mais informações, assista o vídeo no canal Doutor Ajuda.
Os transtornos mentais e comportamentais relacionados ao uso de álcool e outras drogas são responsáveis por mais de 11 mil mortes anuais no Brasil, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde. Nesta semana é celebrado o Dia Mundial de Combate às Drogas e o Alcoolismo (20 de fevereiro), com o propósito de conscientizar a população sobre os danos causados pelo uso dessas substâncias.
A professora do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da Universidade de Brasília (CRR/FCE/UnB) Andrea Donatti Gallassi explica que tanto o álcool quanto as drogas ilícitas são capazes de alterar o sistema nervoso central.
“Droga é qualquer substância que age no sistema nervoso central. Então álcool, maconha, cocaína, crack são consideradas drogas. O nome técnico que a gente usa é substância psicoativa, porque ela atua no nosso sistema nervoso central alterando a nossa percepção, alterando o seu funcionamento.”
Segunda a professora, o álcool é uma substância depressora do sistema nervoso central, que diminui a capacidade de concentração, reação e julgamento. Já a cocaína, por exemplo, é uma droga estimulante que acelera o sistema nervoso central, aumentando a vigilância e a agitação do usuário.
Por conta dessa capacidade de alteração dos sentidos, o álcool e as drogas podem trazer graves riscos aos usuários e às pessoas à sua volta. “Então o álcool, além de atuar no nosso sistema nervoso central, a gente fica sonolento. Por isso que um problema muito grande associado ao uso do álcool é o fato de que, depois que a pessoa faz uso dele, ela não pode dirigir justamente porque ela tem os reflexos prejudicados.”
“Quando você está sob efeito de álcool, essa capacidade de controle fica prejudicada. Por isso, em muitas ocasiões, você tem uso de álcool associado a quadros de violência doméstica, de violência no trânsito. Porque o álcool potencializa esse comportamento agressivo, porque ele diminui a capacidade de julgamento daquela situação”, acrescenta.
Segundo o oficial de Controle do Tabaco e Impostos de Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS), Diogo Alves, 27% dos motoristas que sofreram acidentes de trânsito afirmam ter consumido álcool antes do episódio; 20% das tentativas de suicídio estão ligadas ao uso da bebida; e mais de 40% das vítimas de violência interpessoal relatam que o agressor ingeriu bebida alcoólica antes do episódio.
Ele comenta outros prejuízos do álcool para a saúde. “O álcool é uma substância psicoativa que causa diversos prejuízos à saúde. Existem pelo menos 40 condições e enfermidades que estão diretamente relacionadas ao uso de álcool. E outras mais de 200 que estão indiretamente ligadas ao uso de bebidas alcoólicas. E vai das mais variadas possíveis, desde distúrbios mentais, comportamentais, a própria dependência, até doenças do sistema gastrointestinal e outros cânceres”.
Segundo pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o álcool é a droga mais consumida no Brasil, uma vez que ela é de fácil acesso. De acordo com o levantamento, mais da metade da população brasileira entre 12 e 65 anos já consumiu bebida alcoólica pelo menos uma vez na vida.
O alto consumo da substância e sua dependência geram problemas para a saúde pública. Segundo o porta-voz da Opas Diogo Alves, o Ministério da Saúde estima que o álcool causa um impacto de mais de R$ 100 milhões só em internações.
“Essas internações compreendem doenças relacionadas ao álcool, mas também os agravos, que seriam os próprios acidentes. Tanto é que alguns governos estaduais, no início da pandemia, quando não havia leitos suficientes para tratamento [de Covid-19], acabaram por adotar medidas mais severas em relação a beber e dirigir, justamente porque o álcool acaba sendo um dos agravantes ou aquele que mais ocupa as UTIs.”
Segundo Diogo Alves, a dependência do álcool também causa impactos socioeconômicos na vida do usuário.
“As pessoas que entram num tratamento de algum transtorno relacionado ao álcool vão se ausentar do seu trabalho onerando, por exemplo, a previdência social e também o próprio desenvolvimento; há uma perda de produtividade. Além de ser uma substância responsável por mais de 3 milhões de óbitos no mundo, ele causa 5% de todos os anos de vida perdidos. O que isso quer dizer? As pessoas que vivem com uma condição precária ao longo da vida, 5% estão relacionados ao álcool. Isso tem um impacto econômico também justamente na perda de produtividade.”
Quem conhece hoje o Rogério Soares de Araújo não imagina que ele foi morador de rua por 25 anos, depende de álcool e crack. Nascido em 1971, foi abandonado pelos pais logo após o nascimento e levado para um orfanato. Ao sair da instituição, Rogério foi morar nas ruas, onde conheceu o mundo das drogas e do álcool.
“Na verdade, o crack fez eu voltar às minhas origens, já que eu tinha nascido na rua. Então eu achava normal. Mas o que me fez estar em situação de rua foi o consumo excessivo de crack juntamente com o álcool. Eu perdi a responsabilidade de trabalho, perdi moradia”, conta.
De 1989 até 2014, Rogério viveu nas ruas de vários estados, como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, até chegar em Brasília (DF).
“O crack fez com que eu perdesse minha vontade de viver. Eu já era uma pessoa que andava com saco de lixo nas costas, seis meses sem tomar banho, comia comida do lixo e bebia álcool de posto de carro”, relata.
Após 14 internações em instituições de recuperação, Rogério conseguiu vencer a dependência do álcool e das drogas e desde então vem ajudando moradores de ruas que enfrentam o mesmo desafio.
“Quando eu saí das ruas, que eu consegui vencer o álcool e as drogas, eu pensei em levar algo a mais para rua, além de uma comida e uma roupa. Porque eu sempre sentia falta. E hoje a gente tem um ônibus que oferece um banho quente, uma roupa, oferecemos comida, mas pensando em uma dinâmica total. Hoje a gente consegue levar esporte, cultura e lazer. Eu tenho uma equipe de enfermagem que cuida dessas pessoas que estão em situação de rua.”
Segundo Rogério, o objetivo do projeto Barba na Rua é conscientizar os moradores de rua sobre a importância de tratar a dependência do álcool e das drogas para que eles possam retomar o vínculo com os familiares.
Em média, 300 refeições são servidas todos os sábados pelas ruas da capital, além dos banhos e outros atendimentos. Segundo Rogério, o projeto atende em média 700 pessoas em situação de vulnerabilidade mensalmente. A maior parte da iniciativa é custeada com recursos de doadores da sociedade civil.
Para conhecer mais sobre o projeto, acesse o Instagram @barbanarua ou @institutobarbanarua.
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A Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS), juntamente com seu secretariado e países membros, recomenda que os governos tomem medidas para tornar o álcool uma droga menos acessível.
“Reduzir horários de venda; reduzir estabelecimentos que os vendem; fazer cumprir, por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente para que a venda não seja para menores de idade. Também existe a parte de restringir a propaganda e a publicidade de bebidas alcoólicas, justamente para não causar uma desinformação ao consumidor.
Por outro lado, também recomenda-se trabalhar na informação para esse consumidor. Quais são os impactos? Que isso esteja bem claro por meio de campanhas, no próprio rótulo dessas bebidas para o consumidor”, recomenda Diogo Alves.
Outra orientação da Opas/OMS como política pública é aumentar os impostos das bebidas alcoólicas, o que vai trazer o retorno financeiro ao governo - na parte onde sofre um dispêndio muito alto na saúde - ao mesmo tempo que vai tornar o produto menos acessível para o público mais vulnerável, principalmente os mais jovens.
“E há outras medidas também que é a parte de oferecer tratamento. No Brasil, ele é oferecido de forma totalmente gratuita no SUS. Fazer estudos de qual é o impacto do álcool no desenvolvimento e na saúde. Implantar políticas de beber e dirigir, como o Brasil já vem implementando na parte de Lei Seca. Trabalhar fortemente na parte de comunicação também. E trabalhar na parte de vigilância para se ter uma dimensão desse problema de saúde relacionado ao álcool”, acrescenta Diogo Alves.
Neste episódio a Dra. Karina Calderoni dá dicas de como parar de beber
Você conhece alguém que bebe demais, tem vários problemas por conta disso e mesmo assim não consegue controlar o uso do álcool? Quer saber como parar de beber? Neste episódio a Dra. Karina Calderoni dá dicas de como parar de beber.
Para saber mais, assista ao vídeo no canal Dr. Ajuda.
Para muita gente, final de semana é sinônimo de tomar uma cervejinha. De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig), uma em cada três pessoas consome álcool pelo menos uma vez por semana. Entre os pesquisados pelo instituto, cerca de 17% disse que aumentou o consumo de álcool na pandemia e quase 19% assumiu consumo abusivo.
O servidor público Gustavo Menezes se orgulha de não fazer mais parte desse número. Há mais de mil dias não consome bebida alcoólica. Mas dos seus 47 anos de idade, 32 deles foram enfrentando problemas com álcool. Começou a beber aos 11 anos. “Eu só fui ter a mente aberta para curar do alcoolismo agora nessa última fase da minha vida quando eu não tinha mais forças para lutar. O álcool realmente tinha dominado minha vida e eu estava quase a ponto de parar nas ruas.”
A assistente social Kelma Soares, tem doutorado em Psicologia e estudou o tratamento do consumo excessivo de álcool. Ela diz que situações como essa são normais. Isso porque o sujeito que é alcoolista - termo usado na ciência - raramente se reconhece como tal. “Para ele o uso está controlado e é o famoso: ‘paro na hora que eu quiser’. Mas na realidade essa negação é característica da própria doença, da própria pessoa que vivencia já esse processo de adoecimento”, pondera.
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o alcoolismo como um problema complexo. Desde 1967, o problema foi considerado uma doença. Um estudo da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) estima que 85 mil pessoas morram por ano em decorrência do consumo excessivo de álcool.
Segundo a pesquisadora Kelma Soares, o alcoolismo é um tabu na sociedade. “Há um obscurantismo da doença na sociedade que muitas vezes é vista de ordem individual e moralista”, diz. Ela alerta que o alcoolismo é uma doença social e que traz impactos para a vida de todos.
Não há fatores específicos que indiquem se um sujeito desenvolverá a doença ou não. Há o resultado de questões fisiológicas, emocionais e sociais. “Percebe-se maior incidência da doença entre as pessoas que tiveram uma infância e juventude mais expostas a condições de vulnerabilidade social”, explica.
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Gustavo iniciou o tratamento contra o alcoolismo há cerca de quatro anos: “Estou a 1.400 dias sem alcool”, comemora. Para ele, cada dia é um combate e uma vitória. “No início foi mais difícil. A cada cinco minutos tinha de lutar contra a vontade de beber. Hoje, já não sinto nem vontade”, conta.
Mesmo assim, não dá para dizer que foi curado. “Tenho companheiros de caminhada que caíram após 19 anos sem beber”, lembra. Ele conta que, para um adicto - termo usado nos grupos de apoio para o combate ao alcoolismo - não existe beber socialmente. “Você não aprende a beber. Na hora que coloca uma gota de álcool na boca, é como se você fosse beber por todo aquele período que ficou em abstenção”, alerta.
No começo, Gustavo participou de reuniões diárias para vencer a doença. Hoje, procura apoio psicológico, espiritual e segue frequentando o grupo de apoio dos alcoólicos anônimos. “Procuro motivar e levar palavras de esperança às pessoas. Muitos olham para mim e dizem: ‘se ele conseguiu, eu também posso’.”
O primeiro AA foi criado em 1935, nos Estados Unidos. Hoje, no Brasil, são mais de 5 mil grupos de apoio que estão presentes em todos os estados. Confira no site da organização um grupo perto de você. Os narcóticos anônimos também apoiam pessoas em condições de dependência química.