Se os pães de forma fossem bebidas, os produtos de cinco marcas seriam considerados alcoólicos – pois têm teor de álcool superior a 0,5%. É o que aponta uma pesquisa da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste). Segundo especialistas, o consumo de pães com concentração de álcool que ultrapassa os limites ideais para o consumo pode agravar comorbidades e, ainda, prejudicar o desenvolvimento de fetos.
Confira as cinco marcas levantadas e o teor alcoólico de cada uma:
Visconti (teor alcoólico de 3,37%), Bauducco (1,17%), Wickbold 5 Zeros (0,89%), Wickbold Sem Glúten (0,66%), Wick Leve (0,52%), e Panco (0,51%).
As marcas que estão dentro do ideal são: Seven Boys (0,50%), Wickbold (0,35%), Plusvita (0,16%) E Pullman (0,05%)
O médico nutrólogo, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), Durval Ribas Filho, de São Paulo (SP), afirma que a ingestão de pães com elevado teor alcoólico pode agravar o quadro de pessoas com problemas hepáticos, por exemplo. Ele ainda destaca a relevância da pesquisa para a saúde da população.
“Existem pessoas que têm problemas hepáticos, problemas do fígado, principalmente a chamada esteato hepatite ou esteatose hepática, e para aqueles portadores, evidentemente, de um grau mais avançado, que seria cirrose, certamente seria altamente prejudicial a ingestão desses pães que têm um teor de álcool maior do que se deve. Portanto, é fundamental que essa pesquisa possa atingir a população, pois é extremamente importante em termos de saúde pública”, diz.
Além disso, a ingestão de álcool pode piorar sintomas gastrointestinais e agravar quadros de ansiedade e depressão a longo prazo. A nutricionista Pollana Campos, de Brasília (DF), explica de que forma o etanol age no organismo e impacta a saúde dessas pessoas.
“Ele pode também piorar o quadro de acumulo de gordura. Além disso, algumas doenças gastrointestinais, como, por exemplo, úlcera, gastrite, o álcool ele é muito irritante da mucosa gástrica e isso pode favorecer ainda mais o processo de inflamação. O refluxo também é uma doença em que a pessoa não pode consumir álcool, porque ele piora os sintomas desses refluxos. Além das pessoas também com alguns distúrbios psiquiátricos, como depressão, porque o álcool é um depressor do sistema nervoso central, que pode piorar os sintomas. Pessoas com ansiedade também podem ter aumento dos sintomas a longo prazo”, destaca Pollana.
A nutricionista Fernanda Larralde, da BioMundo, de São Paulo (SP), pondera que as pessoas em processo de tratamento em relação a transtornos alcoólicos devem se atentar às marcas de pães mencionadas no levantamento, já que o seu consumo pode prejudicar a evolução do desmame do vício.
“As pessoas que estão se recuperando de transtornos alcoólicos não deveriam, em hipótese alguma, fazer o consumo do álcool; e de repente, por exemplo, se consome um pão desse, porque quando que a gente vai associar um pão à produção de bebida alcoólica? Até porque esse conhecimento acaba sendo mais restrito e o que se espera das indústrias é que haja uma entrega de produtos idôneos, que não comprometam a saúde de ninguém”, expõe Fernanda.
As gestantes e lactantes também devem se atentar às marcas de pães que consomem, tendo em vista que o consumo de álcool não é recomendado para essa parcela da população. O texto da pesquisa menciona que, mesmo que em doses pequenas, o consumo recorrente de álcool pode impactar o aprendizado e ocasionar problemas de memória.
“A síndrome alcoólica fetal (SAF), ocasionada pela ingestão de álcool, é caracterizada por anormalidades no neurodesenvolvimento do sistema nervoso central, retardo de crescimento e problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade”, diz um trecho da pesquisa.
A nutricionista Pollana Campos afirma que a ingestão de álcool por gestantes e lactantes pode afetar o desenvolvimento neurológico do feto, interferir no desenvolvimento do sistema nervoso do bebê e, ainda, levar a malformações congênitas. “As crianças expostas ao álcool durante a gestação podem ter problemas comportamentais como hiperatividade, dificuldade de atenção e problemas de socialização”, salienta Pollana.
No processo de produção dos pães há dois momentos em que o etanol está presente. Primeiro, ocorre a produção natural de etanol no processo de fermentação. Após a adição de ingredientes como sal, açúcar e fermento, este último converte os açúcares em dióxido de carbono e álcool – nessa etapa, o etanol deve evaporar quando o pão é assado e restar pouca quantidade no alimento.
Posteriormente, o álcool é adicionado para diluir os conservantes que irão evitar que o pão mofe – o que ocorre após o alimento passar pelo forno.
“É um método chamado de aspersão. Assim que esse pão sai do forno, é borrifado sobre ele um tipo de conservante, autorizado por lei, mas esse conservante é diluído em álcool. Então, o que se observou nesta pesquisa da Protesta é que esse álcool não foi evaporado”, explica a nutricionista Fernanda Larralde.
Segundo o levantamento, a contaminação dos pães com o álcool pode ocorrer quando a indústria acrescenta conservantes nos produtos. “[...] se houver um abuso na quantidade do antimofo ou em sua diluição, isso (a evaporação do etanol) pode não ocorrer e ocasionar em um pão com um teor de etanol muito elevado”, diz o texto da pesquisa.
Segundo os especialistas, a população deve se atentar aos ingredientes listados nos alimentos. A nutricionista Fernanda Larralde explica que quanto mais ingredientes familiares, por exemplo, sal, trigo, melhor é o alimento. “Quanto mais simples uma lista de ingredientes, muito mais seguro vai ser o consumo desse alimento.”
Em contrapartida, se o número de insumos químicos for grande, maior é a probabilidade de desenvolver doenças a longo prazo, como câncer, segundo a especialista.
“Quanto maior a lista química presente nesse alimento, muito maior vai ser a presença desses produtos que são tóxicos para o nosso organismo, tóxico para o intestino, para o fígado. E isso pode levar a médio e longo prazo ao desenvolvimento de muitas doenças, como o câncer, por exemplo”, ressalta Fernanda Larralde.
Algumas das marcas de pães mencionadas no levantamento também poderiam acarretar na reprovação no teste do bafômetro – a depender da quantidade ingerida pelo consumidor. Segundo a pesquisa, duas fatias do pão de forma da marca Visconti teriam o equivalente a 1,69 g de álcool; da Bauducco, a 0,59 g; e da Wickbold 5 Zeros, a 0,45 g.
Conforme os índices do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), a quantidade segura de álcool no organismo seria abaixo de 3,3 gramas (g) de álcool. Ou seja, ao consumir 2 fatias de alguns produtos poderia acusar ingestão de álcool no bafômetro.
Inclusive, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abriu um processo para responsabilizar as marcas de pães com teor alcoólico.
Em seis dias de fiscalização, a Policia Rodoviária Federal identificou um número maior de autuações por excesso de velocidade nas rodovias durante a Operação Carnaval. De acordo com o relatório, foram 41.633 registros. Um aumento de 9%, em comparação ao mesmo período do ano passado. Na opinião do escritor e jurista Yure Melo, o número ainda preocupa. Ele acredita que os motoristas estão mais confiantes na evolução tecnológica dos veículos e acabam depositando muita confiança no carro quando estão na direção.
“Os carros brasileiros já melhoraram bastante, principalmente porque nós temos carros hoje que são obrigatórios saírem das fábricas com freio ABS. Isso já fez uma diferença muito grande na questão dos acidentes pelo Brasil e ainda o uso obrigatório de cintos de segurança, além dos carros que já vêm com airbags”, analisa.
Em sentido contrário, as infrações por alcoolemia, prisões por recusa nos testes e ultrapassagem indevida registraram queda em comparação ao ano passado, conforme levantamento da PRF.
De acordo com o especialista Yure Melo, mesmo com a conscientização dos motoristas, ainda se faz necessário investir mais do que já está sendo feito para manter a conservação das rodovias brasileiras.
“Acho que o governo federal deve continuar investindo com seriedade, com respeito ao cidadão brasileiro, Só assim, acredito que podemos reduzir isso a valores bastante significativos”, ressalta.
As ações da Polícia Rodoviária Federal incluem a fiscalização de condutas irregulares de motoristas — que podem representar riscos a outros usuários das rodovias — como a mistura álcool e direção, excesso de velocidade e ultrapassagem indevida.
Os dados da PRF mostram que, ao todo, 1.867 motoristas foram autuados por consumir álcool e dirigir ou por se recusar a fazer o teste de alcoolemia e 107 acabaram presos por dirigirem embriagados ou apresentarem sinais de alteração da capacidade psicomotora provocada pelo consumo de álcool. Além disso, também foram registradas 7.926 ultrapassagens indevidas e 41.633 veículos trafegando acima da velocidade estabelecida para as rodovias.
Apesar da Operação Carnaval mostrar uma queda nas infrações relacionadas a alcoolemia, em comparação ao ano passado, o presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito (IST) e doutor em Segurança de Trânsito pela ULB, da Bélgica, David Duarte, avalia que o carnaval foi marcado por imprudências e excessos. Segundo ele, com relação a ingestão de bebida alcoólica, por exemplo, não são todas as pessoas que sabem que ainda existe risco de ser pego pelas autoridades dirigindo após beber, mesmo no dia seguinte.
“A cada hora e meia, o fígado elimina cerca de 10 gramas de álcool por litro de sangue. Isso significa o seguinte, que uma latinha de cerveja, se a pessoa tomou 10 latinhas de cerveja no churrasco, ela vai demorar cerca de 15 horas para ter alcoolemia zerada. E as pessoas não sabem disso. Às vezes pegam o carro no dia seguinte, saem pra dirigir e aí são flagrados numa blitz da lei seca”, explica.
Neste episódio, o Hepatologista, Mário Guimarães Pessoa fala sobre hepatite alcoólica e cirrose
Você conhece alguém que ingere bebida alcoólica em excesso? Sabe o que o álcool pode fazer com seu fígado?
A hepatite alcoólica é uma inflamação que ocorre no fígado devido ao uso abusivo de álcool. Após muitos anos de inflamação, o tecido do fígado é substituído pela fibrose, o que pode levar à cirrose. O processo de metabolização do álcool que ingerimos ocorre no fígado, e tem como resultado a produção de algumas toxinas, que podem agredir o fígado levando a um processo de inflamação e cicatrização exacerbada, a fibrose hepática.
Ao longo de muitos anos de agressão ao fígado, essas cicatrizes substituem as células normais do fígado, e o resultado disso é um fígado com muitas cicatrizes e endurecido, a chamada cirrose.
É importante destacar que o fígado é uma órgão silencioso, e no início do processo inflamatório o paciente não costuma apresentar sintomas. Os principais sintomas da hepatite alcoólica grave incluem:
Não ocorrendo a parada da ingestão alcoólica, o caso do paciente vai evoluindo para cirrose e insuficiência do fígado, e nesses casos podem apresentar as complicações da cirrose que são:
Quando a cirrose se desenvolve, o fígado fica extremamente duro, dificultando a circulação do sangue por dentro dele. Quando isso ocorre, parte do sangue que iria passar por ele é desviado para outras veias menores, principalmente do estômago e do esôfago. O problema é que essas veias menores possuem paredes finas e podem romper, causando sangramento. Se o paciente rompe umas dessas varizes no esôfago, ele apresenta tosse com sangue e sangramento nas fezes.
Você deve procurar o médico para a avaliação correta, o diagnóstico da hepatite alcoólica é realizado por meio de exames de imagem e biópsia do fígado. A história clínica e entender o consumo de álcool do paciente e o exame físico pode ajudar.
O tratamento mais importante é a parada completa do consumo de bebidas alcoólicas, o que pode reverter parcial ou totalmente os danos causados pelo álcool. Sabemos que não é fácil para o dependente parar de beber, medicação, psicoterapia, apoio de grupos, uma orientação de um profissional especializado e até mesmo a internação podem ajudar nesse processo.
O segundo passo é a orientação da dieta corrigindo o déficit nutricional causado pelo álcool, de preferência com o acompanhamento de uma nutricionista. E em casos mais graves de hepatite alcoólica, o paciente necessita de internação hospitalar.
O consumo exagerado de álcool não causa apenas a hepatite aguda, crônica e cirrose no fígado, pode causar também outros problemas no fígado, por exemplo, em pacientes que têm hepatite B ou hepatite C, podem causar tumores de fígado. Além disso, pode estar associado a outros problemas como perda de memória, anemia, osteoporose, câncer e baixa imunidade.
Para mais informações, assista o vídeo no canal Doutor Ajuda.
Neste episódio a Gastroenterologista Dra. Maira Marzinotto dará mais informações sobre o assunto.
Você sabia que o consumo de álcool em excesso pode fazer mal para o pâncreas? Já ouviu falar em pancreatite crônica? Neste episódio a Gastroenterologista Dra. Maira Marzinotto fala mais sobre a doença.
O pâncreas fica localizado na parte de cima do abdômen e tem como função produzir grande parte das enzimas responsáveis pela digestão e também liberar hormônios como insulina para atuar no controle do açúcar no sangue a glicemia
Pancreatite crônica é uma inflamação no pâncreas que não acontece de forma rápida e repentina. Ela vai afetando de forma lenta e gradual de maneira que aos poucos vai comprometendo as funções do pâncreas até perder totalmente sua funcionalidade.
Isso é chamado de insuficiência pancreática exócrina (quando atinge apenas a produção de enzimas) e insuficiência endócrina (quando atinge as células produtoras de hormônios).
Sem dúvida nenhuma, a principal causa da pancreatite crônica é o abuso no consumo de bebidas alcoólicas. Só para ter uma ideia, uma em cada 20 pessoas que são dependentes do álcool, vai desenvolver pancreatite crônica. Isso também depende da predisposição genética da pessoa.
Outras causas são tabagismo e doenças autoimunes, quando o sistema de defesa do corpo por alguma razão começa a atacar o próprio pâncreas.
Para saber mais, assista ao vídeo no canal Dr. Ajuda.
A médica Gastroenterologista Maira Marzinotto dá mais informações.
Por que temos ressaca após beber álcool? Neste vídeo a Gastroenterologista Dra. Maira Marzinotto dá mais informações.
O maior motivo para termos a ressaca após o consumo excessivo de álcool é a desidratação.
O Álcool possui um efeito diurético em nosso organismo e quando ingerido em excesso pode aumentar muito a frequência de urina. Além disso, o álcool é metabolizado (transformado) no fígado e o produto que resulta dessa transformação é um dos principais responsáveis pelos piores sintomas da ressaca como dor de cabeça forte, enjoo, vômito, dores no corpo e no estômago, falta de apetite e baixa de açúcar no sangue.
Por isso, quando for consumir álcool beba muita água, se alimente bem e evite misturar diferentes tipos de bebidas na mesma ocasião.
Para saber mais, assista ao vídeo no canal Dr. Ajuda.
Os transtornos mentais e comportamentais relacionados ao uso de álcool e outras drogas são responsáveis por mais de 11 mil mortes anuais no Brasil, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde. Nesta semana é celebrado o Dia Mundial de Combate às Drogas e o Alcoolismo (20 de fevereiro), com o propósito de conscientizar a população sobre os danos causados pelo uso dessas substâncias.
A professora do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da Universidade de Brasília (CRR/FCE/UnB) Andrea Donatti Gallassi explica que tanto o álcool quanto as drogas ilícitas são capazes de alterar o sistema nervoso central.
“Droga é qualquer substância que age no sistema nervoso central. Então álcool, maconha, cocaína, crack são consideradas drogas. O nome técnico que a gente usa é substância psicoativa, porque ela atua no nosso sistema nervoso central alterando a nossa percepção, alterando o seu funcionamento.”
Segunda a professora, o álcool é uma substância depressora do sistema nervoso central, que diminui a capacidade de concentração, reação e julgamento. Já a cocaína, por exemplo, é uma droga estimulante que acelera o sistema nervoso central, aumentando a vigilância e a agitação do usuário.
Por conta dessa capacidade de alteração dos sentidos, o álcool e as drogas podem trazer graves riscos aos usuários e às pessoas à sua volta. “Então o álcool, além de atuar no nosso sistema nervoso central, a gente fica sonolento. Por isso que um problema muito grande associado ao uso do álcool é o fato de que, depois que a pessoa faz uso dele, ela não pode dirigir justamente porque ela tem os reflexos prejudicados.”
“Quando você está sob efeito de álcool, essa capacidade de controle fica prejudicada. Por isso, em muitas ocasiões, você tem uso de álcool associado a quadros de violência doméstica, de violência no trânsito. Porque o álcool potencializa esse comportamento agressivo, porque ele diminui a capacidade de julgamento daquela situação”, acrescenta.
Segundo o oficial de Controle do Tabaco e Impostos de Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS), Diogo Alves, 27% dos motoristas que sofreram acidentes de trânsito afirmam ter consumido álcool antes do episódio; 20% das tentativas de suicídio estão ligadas ao uso da bebida; e mais de 40% das vítimas de violência interpessoal relatam que o agressor ingeriu bebida alcoólica antes do episódio.
Ele comenta outros prejuízos do álcool para a saúde. “O álcool é uma substância psicoativa que causa diversos prejuízos à saúde. Existem pelo menos 40 condições e enfermidades que estão diretamente relacionadas ao uso de álcool. E outras mais de 200 que estão indiretamente ligadas ao uso de bebidas alcoólicas. E vai das mais variadas possíveis, desde distúrbios mentais, comportamentais, a própria dependência, até doenças do sistema gastrointestinal e outros cânceres”.
Segundo pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o álcool é a droga mais consumida no Brasil, uma vez que ela é de fácil acesso. De acordo com o levantamento, mais da metade da população brasileira entre 12 e 65 anos já consumiu bebida alcoólica pelo menos uma vez na vida.
O alto consumo da substância e sua dependência geram problemas para a saúde pública. Segundo o porta-voz da Opas Diogo Alves, o Ministério da Saúde estima que o álcool causa um impacto de mais de R$ 100 milhões só em internações.
“Essas internações compreendem doenças relacionadas ao álcool, mas também os agravos, que seriam os próprios acidentes. Tanto é que alguns governos estaduais, no início da pandemia, quando não havia leitos suficientes para tratamento [de Covid-19], acabaram por adotar medidas mais severas em relação a beber e dirigir, justamente porque o álcool acaba sendo um dos agravantes ou aquele que mais ocupa as UTIs.”
Segundo Diogo Alves, a dependência do álcool também causa impactos socioeconômicos na vida do usuário.
“As pessoas que entram num tratamento de algum transtorno relacionado ao álcool vão se ausentar do seu trabalho onerando, por exemplo, a previdência social e também o próprio desenvolvimento; há uma perda de produtividade. Além de ser uma substância responsável por mais de 3 milhões de óbitos no mundo, ele causa 5% de todos os anos de vida perdidos. O que isso quer dizer? As pessoas que vivem com uma condição precária ao longo da vida, 5% estão relacionados ao álcool. Isso tem um impacto econômico também justamente na perda de produtividade.”
Quem conhece hoje o Rogério Soares de Araújo não imagina que ele foi morador de rua por 25 anos, depende de álcool e crack. Nascido em 1971, foi abandonado pelos pais logo após o nascimento e levado para um orfanato. Ao sair da instituição, Rogério foi morar nas ruas, onde conheceu o mundo das drogas e do álcool.
“Na verdade, o crack fez eu voltar às minhas origens, já que eu tinha nascido na rua. Então eu achava normal. Mas o que me fez estar em situação de rua foi o consumo excessivo de crack juntamente com o álcool. Eu perdi a responsabilidade de trabalho, perdi moradia”, conta.
De 1989 até 2014, Rogério viveu nas ruas de vários estados, como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, até chegar em Brasília (DF).
“O crack fez com que eu perdesse minha vontade de viver. Eu já era uma pessoa que andava com saco de lixo nas costas, seis meses sem tomar banho, comia comida do lixo e bebia álcool de posto de carro”, relata.
Após 14 internações em instituições de recuperação, Rogério conseguiu vencer a dependência do álcool e das drogas e desde então vem ajudando moradores de ruas que enfrentam o mesmo desafio.
“Quando eu saí das ruas, que eu consegui vencer o álcool e as drogas, eu pensei em levar algo a mais para rua, além de uma comida e uma roupa. Porque eu sempre sentia falta. E hoje a gente tem um ônibus que oferece um banho quente, uma roupa, oferecemos comida, mas pensando em uma dinâmica total. Hoje a gente consegue levar esporte, cultura e lazer. Eu tenho uma equipe de enfermagem que cuida dessas pessoas que estão em situação de rua.”
Segundo Rogério, o objetivo do projeto Barba na Rua é conscientizar os moradores de rua sobre a importância de tratar a dependência do álcool e das drogas para que eles possam retomar o vínculo com os familiares.
Em média, 300 refeições são servidas todos os sábados pelas ruas da capital, além dos banhos e outros atendimentos. Segundo Rogério, o projeto atende em média 700 pessoas em situação de vulnerabilidade mensalmente. A maior parte da iniciativa é custeada com recursos de doadores da sociedade civil.
Para conhecer mais sobre o projeto, acesse o Instagram @barbanarua ou @institutobarbanarua.
CARNAVAL: Especialista fala sobre o aumento do consumo de drogas durante a festa
ALCOOLISMO: dicas de como parar de beber
Brasileiros consumiram mais bebidas alcoólicas durante a pandemia
A Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS), juntamente com seu secretariado e países membros, recomenda que os governos tomem medidas para tornar o álcool uma droga menos acessível.
“Reduzir horários de venda; reduzir estabelecimentos que os vendem; fazer cumprir, por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente para que a venda não seja para menores de idade. Também existe a parte de restringir a propaganda e a publicidade de bebidas alcoólicas, justamente para não causar uma desinformação ao consumidor.
Por outro lado, também recomenda-se trabalhar na informação para esse consumidor. Quais são os impactos? Que isso esteja bem claro por meio de campanhas, no próprio rótulo dessas bebidas para o consumidor”, recomenda Diogo Alves.
Outra orientação da Opas/OMS como política pública é aumentar os impostos das bebidas alcoólicas, o que vai trazer o retorno financeiro ao governo - na parte onde sofre um dispêndio muito alto na saúde - ao mesmo tempo que vai tornar o produto menos acessível para o público mais vulnerável, principalmente os mais jovens.
“E há outras medidas também que é a parte de oferecer tratamento. No Brasil, ele é oferecido de forma totalmente gratuita no SUS. Fazer estudos de qual é o impacto do álcool no desenvolvimento e na saúde. Implantar políticas de beber e dirigir, como o Brasil já vem implementando na parte de Lei Seca. Trabalhar fortemente na parte de comunicação também. E trabalhar na parte de vigilância para se ter uma dimensão desse problema de saúde relacionado ao álcool”, acrescenta Diogo Alves.
Neste episódio a Dra. Karina Calderoni dá dicas de como parar de beber
Você conhece alguém que bebe demais, tem vários problemas por conta disso e mesmo assim não consegue controlar o uso do álcool? Quer saber como parar de beber? Neste episódio a Dra. Karina Calderoni dá dicas de como parar de beber.
Para saber mais, assista ao vídeo no canal Dr. Ajuda.
A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), realizou uma operação de fiscalização em 12 estados e no Distrito Federal para verificar o cumprimento das normas de qualidade, além da adequação de equipamentos, documentação e prestação de informações aos consumidores. A operação foi conduzida entre os dias 29/08 e 01/09 em todas as regiões do país, no Distrito Federal e nos estados do Acre, Bahia, Ceará, Paraíba, Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo e Santa Catarina.
A Agência vem acompanhando também, junto com Procons, o cumprimento do Decreto nº 11.121/2022, que obriga as distribuidoras a exibir os preços dos combustíveis líquidos no dia 22 de junho deste ano, junto com os preços atuais. Os estabelecimentos autuados estão sujeitos a multas de R$ 5 mil a R$ 5 milhões, a depender da conclusão do processo administrativo. As ações de fiscalização da ANP podem ser acompanhadas pelo Painel Dinâmico da Fiscalização do Abastecimento, atualizado mensalmente. Denúncias sobre irregularidades no mercado de combustíveis podem ser enviadas à ANP por meio do Fale Conosco ou do telefone 0800 970 0267.
O preço médio de venda da gasolina da Petrobras para as distribuidoras caiu pela quarta vez seguida desde julho, na última sexta-feira (02). A variação, de R$ 3,53 para R$ 3,28 por litro, representa uma queda de 7,08%.
De acordo com a Petrobras, “essa redução acompanha a evolução dos preços de referência e é coerente com a prática de preços da Petrobras, que busca o equilíbrio dos seus preços com o mercado, mas sem o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”. O professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Victor Gomes e Silva, indica três fatores que explicam essas mudanças.
“O primeiro é a queda da cotação internacional da gasolina; o segundo é a queda do dólar; o terceiro é a redução de tributos e subsídios indiretos colocados pelo governo federal”, explica. O valor da gasolina atingiu o ápice entre maio e junho deste ano, quando os consumidores tiveram que pagar entre R$ 7,19 e R$ 7,39 por litro, conforme dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). No fim de junho, houve a sanção da Lei Complementar 194, de 2022, que impõe limite na cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo à alíquota mínima de cada estado, com variação de 17% a 18%.
A gerente comercial de vendas de um posto localizado na cidade de Prata (MG), Johnica Brito de Almeida, conta que a principal estratégia do posto é manter o nível de estoque baixo, para que, em caso de flutuação de preços, não haja prejuízo no rendimento. Sobre o faturamento da empresa e o poder de compra do consumidor, ela destaca: “Quando a gasolina estava exorbitante, acima e quase chegando a R$ 8,00, o poder de compra do consumidor caiu. Então, o consumidor só colocava combustível para chegar no seu trabalho, ou começou a andar de bicicleta, ter novos hábitos, começou aí a não ter o poder de compra. Com a queda, o cenário mudou. Agora, eles estão consumindo mais. Eles estão sempre com os tanques cheios, fazendo com que o faturamento da empresa cresça também, juntamente com o consumo”.
A nutricionista Andreia Rodrigues mora em Itaquera, na Zona Leste da capital paulista, e trabalha em um hospital no município de Ferraz de Vasconcelos, na Região Metropolitana de São Paulo. Ela se desloca de carro por cerca de 26km, entre a ida e a volta para casa. “Agora, com a diminuição no preço da gasolina, eu estou gastando mais ou menos R$600 por mês de gasolina, mas eu já cheguei a gastar em torno de R$ 1.100, R$ 1.200”, conta. Para controlar os gastos durante a alta do combustível, a família reduziu as saídas e parou de comer fora de casa, por exemplo, para economizar.
Após o impacto da alta da gasolina sobre o rendimento financeiro do motorista de aplicativo Celso Tavares de Morais, a situação começou a se normalizar. “Tomara que, no ano que vem, o ICMS abaixe mais ainda”, almeja. A previsão para o próximo ano pode ser de volatilidade, conforme aponta o especialista, Victor Gomes e Silva.
“Os estoques internacionais estão baixos, a gente tem a produção afetada em várias regiões produtoras. E tem que ver como que as economias vão estar reagindo e, especificamente, tem que ver como vai ficar a situação para os mercados emergentes, com a subida da taxa de juros nos Estados Unidos”. Para o especialista, quase todo cenário é possível. “A gente pode ter um cenário bom para o consumidor brasileiro, mas pode ter um cenário ruim, em virtude de maior depreciação cambial”, completa.
A queda de 0,68% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) em julho, segundo o IBGE, indica que a inflação pode começar a ceder, como previsto por analistas do mercado financeiro. O IPCA dos últimos 12 meses continua acima dos dois dígitos (10,07%), mas a tendência, segundo especialistas ouvidos pelo Brasil 61, é de que o indicador vai fechar o ano em torno dos 7%.
Nas últimas seis edições do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, o mercado melhorou as projeções para a inflação. Há quatro semanas, o IPCA esperado era de 7,67%. A estimativa mais recente, publicada na última segunda-feira (8), foi de 7,11%.
Segundo Rodrigo Leite, professor de Finanças e Controle Gerencial do Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a deflação de julho é um sinal de que a inflação deve recuar nos próximos meses. “Espera-se que a inflação este ano feche em algo entre 7% e 9%, diferente do ano passado, em que tínhamos inflação de dois dígitos”, avalia.
De acordo com o IBGE, o IPCA de julho foi o menor registrado desde o início da série histórica, que começou em janeiro de 1980. Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, dois registraram deflação em julho: transportes (-4,51%) e habitação (-1,05%). O preço dos combustíveis, que ajuda a formar o primeiro, por exemplo, caiu 14,15% em julho. Destaque para a gasolina que, individualmente, foi o subitem que compõe o IPCA que mais contribuiu para a deflação.
O professor de Finanças Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV) Pierre Souza explica que o resultado se deve a duas intervenções feitas com o objetivo de controlar a inflação. “Principalmente na questão de tributos sobre combustíveis em geral, que fizeram com que a gente tivesse um recuo na inflação. Em paralelo a isso, tivemos uma série de aumentos da taxa de juros pelo Banco Central, que são exatamente para segurar a inflação”, pontua.
No fim de junho, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei Complementar 194, de 2022, que limita em 17% ou 18% as alíquotas de ICMS que os estados podem cobrar sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo.
O professor Rodrigo Leite lembra que além da diminuição do ICMS sobre os combustíveis, a Petrobras diminuiu o preço de revenda da gasolina e do álcool para as refinarias e que tudo isso puxou a inflação para baixo em julho.
Movimento semelhante ocorreu com a energia elétrica, um dos componentes do grupo de habitação. A energia elétrica residencial recuou 5,78%. Além disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou as revisões tarifárias extraordinárias de dez distribuidoras, o que contribui para a queda.
A deflação, no entanto, não pôde ser tão percebida nas prateleiras do supermercado. Itens como leite longa vida, queijo, manteiga e frutas ficaram mais caros. A inflação dos alimentos e bebidas avançou 1,3%. Rodrigo explica o que impediu a queda no preço dos alimentos.
“Quando você tem uma maior renda e a oferta estagnada, as pessoas vão competir pela mesma quantidade de produtos e o preço acaba subindo. Produtos com a chamada ‘demanda inelástica’, que as pessoas vão comprar não importa o valor, vai ter uma tendência de crescimento rápido, que é o que estamos vendo com os alimentos, que mesmo com queda no valor dos combustíveis, acabaram subindo um pouco”, diz.
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Para muita gente, final de semana é sinônimo de tomar uma cervejinha. De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig), uma em cada três pessoas consome álcool pelo menos uma vez por semana. Entre os pesquisados pelo instituto, cerca de 17% disse que aumentou o consumo de álcool na pandemia e quase 19% assumiu consumo abusivo.
O servidor público Gustavo Menezes se orgulha de não fazer mais parte desse número. Há mais de mil dias não consome bebida alcoólica. Mas dos seus 47 anos de idade, 32 deles foram enfrentando problemas com álcool. Começou a beber aos 11 anos. “Eu só fui ter a mente aberta para curar do alcoolismo agora nessa última fase da minha vida quando eu não tinha mais forças para lutar. O álcool realmente tinha dominado minha vida e eu estava quase a ponto de parar nas ruas.”
A assistente social Kelma Soares, tem doutorado em Psicologia e estudou o tratamento do consumo excessivo de álcool. Ela diz que situações como essa são normais. Isso porque o sujeito que é alcoolista - termo usado na ciência - raramente se reconhece como tal. “Para ele o uso está controlado e é o famoso: ‘paro na hora que eu quiser’. Mas na realidade essa negação é característica da própria doença, da própria pessoa que vivencia já esse processo de adoecimento”, pondera.
Pode fazer teste de Covid-19 depois de beber bebida alcoólica?
RETROSPECTIVA: Quanto tempo devo ficar sem ingerir álcool após tomar vacina contra Covid-19?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o alcoolismo como um problema complexo. Desde 1967, o problema foi considerado uma doença. Um estudo da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) estima que 85 mil pessoas morram por ano em decorrência do consumo excessivo de álcool.
Segundo a pesquisadora Kelma Soares, o alcoolismo é um tabu na sociedade. “Há um obscurantismo da doença na sociedade que muitas vezes é vista de ordem individual e moralista”, diz. Ela alerta que o alcoolismo é uma doença social e que traz impactos para a vida de todos.
Não há fatores específicos que indiquem se um sujeito desenvolverá a doença ou não. Há o resultado de questões fisiológicas, emocionais e sociais. “Percebe-se maior incidência da doença entre as pessoas que tiveram uma infância e juventude mais expostas a condições de vulnerabilidade social”, explica.
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Alcoolismo: veja dicas de como parar de beber
Gustavo iniciou o tratamento contra o alcoolismo há cerca de quatro anos: “Estou a 1.400 dias sem alcool”, comemora. Para ele, cada dia é um combate e uma vitória. “No início foi mais difícil. A cada cinco minutos tinha de lutar contra a vontade de beber. Hoje, já não sinto nem vontade”, conta.
Mesmo assim, não dá para dizer que foi curado. “Tenho companheiros de caminhada que caíram após 19 anos sem beber”, lembra. Ele conta que, para um adicto - termo usado nos grupos de apoio para o combate ao alcoolismo - não existe beber socialmente. “Você não aprende a beber. Na hora que coloca uma gota de álcool na boca, é como se você fosse beber por todo aquele período que ficou em abstenção”, alerta.
No começo, Gustavo participou de reuniões diárias para vencer a doença. Hoje, procura apoio psicológico, espiritual e segue frequentando o grupo de apoio dos alcoólicos anônimos. “Procuro motivar e levar palavras de esperança às pessoas. Muitos olham para mim e dizem: ‘se ele conseguiu, eu também posso’.”
O primeiro AA foi criado em 1935, nos Estados Unidos. Hoje, no Brasil, são mais de 5 mil grupos de apoio que estão presentes em todos os estados. Confira no site da organização um grupo perto de você. Os narcóticos anônimos também apoiam pessoas em condições de dependência química.