Mesmo nos períodos de decisões sobre o futuro e a carreira, muitos jovens ainda desconhecem a educação profissional, que é uma formação rápida, seja técnica ou de qualificação, que contribui para a entrada no mercado de trabalho. Uma pesquisa do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) mostrou que 42% dos brasileiros de 14 a 24 anos conhecem pouco ou nada a respeito da formação técnica.
Entre os mais novos, de 14 a 17 anos, o desconhecimento é ainda maior, chegando a 52%. Já aqueles que têm até o ensino fundamental o percentual chega a 62%.
O superintendente de Educação Profissional e Superior do Senai, Felipe Morgado, avalia como um desafio o cenário em que tantos jovens conhecem pouco o ensino profissionalizante. Segundo ele, a educação profissional aumenta as chances desse grupo conseguir um emprego.
“Esse é um desafio, apresentar para a sociedade, principalmente para os jovens, o quanto a educação profissional é o acesso mais rápido ao mercado de trabalho e o quanto ela ajuda a crescer na carreira, a aprender a aprender e a se desenvolver”, afirma Morgado.
A pesquisa revelou, ainda, que apenas 29% dos jovens afirmam que frequentam ou já frequentaram algum curso profissionalizante. Desse total, 75% deles consideraram a experiência como ótima ou boa. Entre aqueles que têm de 22 a 24 anos, a aprovação chega a 89%.
Já 95% dos jovens ouvidos pela pesquisa avaliam o curso profissionalizante importante para alcançar seus objetivos de vida. É o caso da técnica em administração e em enfermagem, Bianca Jost, 22 anos, moradora do município de Três de Maio (RS).
Enquanto fazia a formação técnica na área administrativa, aos 16 anos, ela ainda estava no ensino médio. O curso teve duração de 1 ano e meio e, durante a formação, teve a experiência de aplicar os conhecimentos numa empresa parceira do Senai. Para Bianca, ambas as formações técnicas foram cruciais tanto para o seu desenvolvimento pessoal e profissional, quanto para conseguir um emprego.
“Minhas experiências, tanto com o curso técnico em administração, que eu fiz concomitante com ensino médio, bem cedo, quanto com o curso técnico em enfermagem, que foi um pouco mais tarde, foram muito boas, serviram para eu criar habilidades de comunicação nessas áreas. Foi super importante me comunicar, criar essa aptidão para tomar decisões, sabe, de me impor, de trabalhar em equipe. Ambas foram muito boas para mim, só trouxeram benefícios”, conta Bianca.
O representante do Senai, Felipe Morgado, aponta o potencial da educação profissional para a carreira dos jovens. "Se o futuro do trabalho está em transformação, a educação profissional é o melhor caminho para que os jovens possam se inserir no mercado de trabalho e ter sucesso profissional."
Apesar da falta de conhecimento sobre os cursos, os jovens participantes da pesquisa do Senai demonstram curiosidade e vontade de cursar a modalidade. Confira os percentuais:
O estudante Jhonatan Kallil Bernabé, 17 anos, de Ji-Paraná (RO), conhece os cursos profissionalizantes ofertados na região onde mora e já pensou em cursar. Agora, a ideia não faz sentido para ele, que sonha em seguir carreira acadêmica.
“Quando eu estava entrando no ensino médio, eu pensei na possibilidade e no Senai, quando eles passaram na minha escola falando sobre os cursos, quando eu ainda não sabia a área específica que eu queria seguir. Estou u vi uma oportunidade de já sair do ensino médio com um passo na frente já, com alguma especialização, que seria mais fácil para mim, que já teria alguma porta aberta depois”, diz Jhonatan.
Hoje, a partir da observação da ascensão profissional de amigos após ingressarem no ensino técnico, Jhonatan avalia a modalidade de educação técnica como uma porta de entrada para o mercado de trabalho.
“Os meus amigos que cursaram falaram que foi muito interessante e, por trabalharem em uma empresa, eu vejo que muitas pessoas fizeram o curso técnico e continuaram seguindo, especializando, fazendo a graduação, fizeram as especializações na área do curso técnico, então eu vejo que é uma porta de entrada muito boa para o mercado de trabalho”, destaca o estudante.
A pesquisa de opinião do Senai ouviu 2007 jovens de 14 a 24 anos de todo o país, sendo uma amostra representativa do território nacional.
Estudo e qualificação são palavras-chave quando o assunto é mercado de trabalho. Na definição do Ministério da Educação (MEC), o curso profissionalizante se caracteriza pela qualificação que prepara os estudantes para exercerem atividade profissional reconhecida no mundo do trabalho. Para ajudar os estudantes que têm dúvidas sobre qual caminho escolher, o coordenador de administração do Senac EAD no Rio Grande do Sul, André Rodhe, detalha a diferença entre o ensino técnico e o profissionalizante.
“O ensino técnico é um pouco mais voltado para o lado acadêmico, enquanto o ensino profissionalizante é mais voltado para prática de mercado. Quando a gente tem o ensino profissionalizante, é um ensino que vai ser voltado muito mais para carreiras específicas, com uma área bem mais técnica e prática.”
Entre as vantagens desse tipo de ensino estão o tempo de conclusão e a empregabilidade. Um levantamento da consultoria Catho destacou as áreas com maior oferta de emprego. No top-3 do ranking elaborado pelo site de classificados de emprego aparecem logística, administração e edificações.
Na avaliação de André Rodhe, a modalidade a distância, que segundo ele existe desde os tempos das fitas cassete e VHS, cresceu com a evolução da tecnologia. “A Internet das Coisas (IoT) possibilitou esse avanço de comunicação, através de sistemas, câmeras, plataformas e internet, que aumentou muito a velocidade, conseguindo passar para as pessoas em qualquer lugar do mundo, em tempo real, imagens, som e material em alta qualidade e resolução.”
As vantagens do ensino a distância vão desde o preço até a flexibilidade de tempo e horário. Também não há necessidade de estrutura física para receber os alunos, o que permite que mais pessoas acessem este tipo de estudo. Rodhe ressalta ainda como benefício a liberdade de horário, em que o aluno pode estudar quando e onde quiser, sem grade horário pré-definida.
Hábitos que foram incorporados à rotina dos alunos por conta da pandemia de covid-19. “A pandemia foi um divisor de águas. Foi um cenário muito ruim olhando pelo ponto de vista de tudo que aconteceu. Mas houve quebra de paradigmas, onde as pessoas começaram a buscar soluções pela internet e se quebrou esse preconceito que existia em relação ao ensino a distância.”
No Congresso Nacional, parlamentares defendem mais incentivos para democratizar o acesso à educação. Caso da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que enfatiza o quanto a modalidade de ensino tem sido decisiva para a inserção de jovens no mercado de trabalho. A parlamentar cita, inclusive, uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que mostra que um em cada três empresários do setor industrial considera o ensino profissionalizante o mais importante da educação básica no país.
Ensino técnico aumenta chances de jovens entrarem no mercado de trabalho
“Esses dados não deixam dúvidas da importância desse tipo de qualificação para o jovem brasileiro. Eu acredito no ensino técnico enquanto solução para o desafio que temos de integrar socialmente mais de 7 milhões de jovens que não trabalham nem estudam no país, os chamados nem-nem. Neste ano, quando esta Casa discutirá o novo Plano Nacional de Educação para o decênio 2024-2034, precisaremos considerar esse cenário e o ensino técnico como importante solução para a qualificação profissional dos jovens brasileiros.”
Damares Alves ainda ressalta que “ao contrário do que muitas pessoas possam pensar, o ensino técnico não impede, nem exclui a possibilidade de o jovem ingressar e cursar a universidade". "Pelo contrário, ele agrega na formação profissional do jovem e contribui para que ele tenha ainda melhor qualificação profissional", acrescenta.
O ensino técnico surgiu no Brasil há mais de 100 anos para suprir a demanda da indústria por capacitação profissional qualificada, influenciando no desenvolvimento e na competitividade desse setor. Por conta disso, são cursos focados em disciplinas mais práticas, visando formar trabalhadores aptos às principais funções disponíveis no mercado de trabalho.
Uma formação profissionalizante que ao mesmo tempo prepara o aluno para o mercado de trabalho e forma o cidadão para encarar os desafios da vida profissional. Segundo o diretor de ensino do Instituto Federal de Brasília, Marcelo Rodrigues, essa formação vai além da sala de aula.
“A gente tem uma formação humana e integral. Então, a gente começa a trabalhar o currículo de acordo com a necessidade humana daquele estudante. Pensamos muito em como colocar para a sociedade um cidadão completo, na sua forma integral, não só com conhecimento técnico, mas também como conhecimento humano.”
O Congresso Nacional trabalha para aumentar a qualidade dessa modalidade de ensino. O senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) propôs a criação da Frente Parlamentar em Favor da Educação Profissional e Tecnológica, aprovada em julho de 2023 pelo Senado
Apesar da tradição da formação técnica no Brasil, apenas 10% dos estudantes estão matriculados nesse tipo de ensino. Segundo a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), falta incentivo aos alunos.
“Ela é uma etapa inicial para que o jovem se insira no mercado de trabalho e não impede que o jovem curse a universidade. E existe uma demanda fortíssima para mão de obra técnica, que os profissionais podem ganhar mais que quem tem nível superior. Por isso é muito importante fazer essa oferta e permitir que o jovem entre mais cedo no mercado de trabalho.”
Criados há 15 anos e espalhados por diversos estados brasileiros, os Institutos Federais oferecem mais de 11 mil cursos em todo o país, que vão desde os cursos técnicos de menor duração, passando pelo integrado — que forma alunos no ensino médio mais o profissionalizante — e ainda os cursos de graduação e pós graduação.
Os institutos têm hoje mais de 1,5 milhão de alunos espalhados por todo o país e, para a professora Carla Simone, de um dos Institutos Federais de Brasília, o maior objetivo é dar a eles autonomia cidadã.
“Com a formação técnica e humana que o aluno recebe, ele consegue mudar sua visão de mundo, então ele passa a existir dentro de uma outra realidade e entende que pode transformar a vida da família e da comunidade onde está inserido.” A forma de ingresso dos Institutos Federais é por sorteio, “onde todos têm a mesma chance”, explica a professora.
A qualidade deste ensino já é ressaltada pelo empresariado. Um levantamento do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Social da Indústria (Sesi) mostra que um a cada três empresários considera o ensino profissionalizante como o ponto mais forte da educação pública brasileira. Além disso, a mesma pesquisa mostra que, para 9 em cada 10 empresários, os cursos técnicos permitem ingresso mais rápido no mercado de trabalho.
A pesquisa do Sesi/Senai ainda aponta os pontos positivos do ensino profissionalizante apresentados pelos empresários. São eles: preparar melhor para o mercado de trabalho (45%), ter cursos mais focados (28%), apresentar cursos mais práticos (22%), ter boa aceitação no mercado de trabalho (18%), ter mais conhecimento/habilidades (17%) e o apoio no começo na carreira profissional (16%). Cada entrevistado podia apontar dois itens considerados importantes.
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Uma pesquisa recente feita pelo instituto Insper mostra que apenas 40% dos alunos que entraram num ensino técnico conseguem se formar. Os motivos para a evasão são muitos — eles vão desde a necessidade de trabalhar até frustrações do aluno com relação ao curso ou à instituição que frequenta.
Uma nova metodologia usada na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Sesi tem apresentado bons resultados em relação à formação dos estudantes. O gerente de Educação Básica do Sesi Nacional, Leonardo Lapa, explica que o currículo é organizado por competências e habilidades importantes para o estudante e para o mundo do trabalho.
“A nossa grande meta, ao pensar uma nova EJA que olhasse para o aluno, para a individualidade dele e que reconhecesse os saberes dele, era fazer a mudança nessa realidade. E, depois de termos implementado o programa em mais de 25 estados, depois de mais de 200 mil estudantes terem passado por essa metodologia, nós temos uma taxa de conclusão de 72% a 82%”, informa.
A nova metodologia utilizada pelo Sesi busca que o aluno conclua o ensino em até 13 meses, com uma completa formação com foco no mercado de trabalho.
Também na contramão dos altos números de evasão, estão os Institutos Federais, onde, segundo um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), no ensino médio integrado — que reúne o ensino médio regular e o profissionalizante — a taxa de evasão varia entre 4,5% e 5%. O que é menos da metade da evasão do ensino médio regular, que chega a 11%.
Para a professora Andrea e Silva, coordenadora geral de ensino do Instituto Federal de Brasília, a forma como o ensino é oferecido ao aluno, influencia diretamente nesses números.
“Na formação do ser humano, das oportunidades de fazer ciência, extensão, de um ensino de muita qualidade, preocupado com o lado social, das relações humanos, então quando esse estudante sai apto para o mercado de trabalho, ele sai com toda essa bagagem.”
Quando foi sorteada para estudar no Instituto Federal de Brasília, a estudante Loreans Honório tinha 14 anos e não imaginava que carreira pretendia seguir. Três anos depois, a jovem de 17 anos está se formando no ensino integrado, sai com dois diplomas: do ensino médio e do ensino profissionalizante em informática. E uma visão de mundo muito diferente.
“Eu nunca me vi na área de informática, mas quando você entra, os professores fazem uma aula tão imersiva que quando você está participando, começa a gostar e pensa: talvez eu queira fazer isso da minha vida.”
O deputado federal Henderson Pinto (MDB-PA) acredita que uma das políticas prioritárias do Brasil precisa ser a geração de emprego e renda, principalmente para a juventude. E o fortalecimento do ensino técnico profissionalizante pode ser um dos caminhos para se alcançar esse fortalecimento.
“Ele já prepara esse aluno para o mercado de trabalho, com isso a gente tem uma possibilidade real que essa pessoa não somente fique no ensino profissionalizante, mas ele possa dar entrada no mercado de trabalho para ajudar o Brasil a melhorar seus índices de emprego e renda e também ter a possibilidade de fazer um curso superior.”
Segundo o parlamentar, o ensino técnico é mais uma oportunidade de ingressar no mundo do trabalho e um pontapé inicial para a profissionalização.
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Todo aluno que se forma no ensino médio profissionalizante, ao final do curso, recebe dois diplomas: o do curso técnico e do ensino médio regular. Uma mudança de 2017 que transformou esse tipo de educação, fazendo com que ela se tornasse mais conectada às necessidades do mercado de trabalho e às demandas do cenário econômico nacional.
Apesar da mudança, o Brasil tem baixos índices de alunos matriculados nesse tipo de ensino, apenas 10%. Os números são ainda menores quando olhamos para a taxa de conclusão: já que apenas 40% dos matriculados terminam o ensino técnico — segundo pesquisa feita pelo Insper.
O assessor de políticas institucionais e parlamentares do Instituto Federal de Brasília, Adilson de Araújo, explica que essa realidade ainda é resultado do nosso passado.
“Isso tem uma relação direta até com a própria formação social do povo brasileiro, a nossa herança escravocrata desvalorizou o trabalho manual e isso ainda tem um peso muito forte. O trabalho abstrato, o trabalho intelectual é que passou a ser valorizado e tudo que se refere ao mundo operacional passou a ser visto como algo secundário.”
Apesar dos números ainda considerados baixos, o assessor do IFB diz que o cenário está mudando. Segundo Adilson de Araújo, há alguns anos a taxa de jovens na educação profissional era de 8%, hoje estamos em torno de 10%.
“O surgimento dos institutos federais nos últimos 15 anos acabaram por minimizar o histórico de preconceito, até pela qualidade dos cursos técnicos oferecidos nos institutos federais, muitos jovens têm procurado.”
A pesquisa do Insper mostra que para cada R$ 1 investido na educação profissional de nível médio, o estudante de ensino técnico obtém retorno superior a R$ 3 na própria remuneração. Mas o professor Adilson de Araujo opina que é mais que isso.
“Sem dúvida, o investimento em educação profissional gera possibilidade de desenvolvimento do setor produtivo, desde seja uma formação séria, competente, com condições adequadas, com insumo e com bons professores. Isso a pesquisa tem indicado que a probabilidade desses jovens se inserirem no mercado de trabalho é muito maior.”
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O senador Paulo Paim (PT-RS) estudou no Senai e conta que deixou de vender flores e frutas para se tornar um técnico, mudança que teve grande impacto na vida dele.
“O ensino técnico profissionalizante não apenas eleva a qualidade de vida, mas também impulsiona novos conhecimentos, inovação, tecnologia, pesquisa, capacitação, enfim, forma profissionais. No entanto, o Brasil precisa investir mais nesse setor, apenas 10% dos nossos alunos cursam ensino técnico”. Segundo o parlamentar, “em outros países europeus, as taxas de alunos matriculados em ensino técnico são muito maiores. Na Alemanha chega a 49% e na Finlândia, 68%”.
Para aumentar esses índices no Brasil, o senador apresentou o PL 126/2020 que propõe a criação do Fundo de Desenvolvimento no Ensino Profissional, o Fundep. O projeto aguarda votação na Comissão de Educação do Senado. “O Brasil merece o melhor e o ensino técnico é parte fundamental deste caminho”, finaliza.
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Sair do ensino médio com uma profissão, entrar no mercado de trabalho mais cedo e ainda garantir salários melhores do que quem sai do ensino médio regular. Essas são algumas das vantagens do ensino técnico, confirmadas em números por uma pesquisa recente feita pelo Insper.
O levantamento mostra que jovens formados pelo ensino técnico terão, ao longo da vida profissional, remuneração 32% maior que a de estudantes que cursaram ensino médio regular e não se formaram numa universidade. Professora do Instituto Federal de Brasília (IFB) desde 2011, Giovanna Tedesco explica que o diploma do ensino técnico habilita o jovem a uma iniciação profissional com certificação. Mas os benefícios desse tipo de formação vão além.
“Os institutos têm uma concepção que não é apenas de formação profissional, também é uma formação social, como cidadão, nos relacionamentos, como se comportar em sociedade. E isso é muito importante para a vida profissional da pessoa.”
Um cálculo feito a partir da pesquisa mostra que para cada R$ 1 investido na educação profissional de nível médio, o estudante de ensino técnico tem retorno superior a R$ 3 na própria remuneração. Salários mais altos e chances de uma boa colocação no mercado de trabalho: é isso que mostra a pesquisa — as chances de quem sai formado pelo ensino técnico aumentam em 5% em relação aos jovens que terminaram apenas o ensino fundamental.
Para a senadora Professora Dorinha Rezende (UNIÃO-TO), em muitas áreas — como na agronomia —, um curso técnico muitas vezes capacita de forma integral o profissional.
“Tem muita função que você não precisa ter curso superior. Você pode ter um curso técnico bem feito, que se mantenha atualizado e que tenha um reconhecimento salarial.”
Mas a parlamentar reforça a importância do ensino continuado. “Hoje, com as mudanças tecnológicas, ninguém está pronto. E aí é preciso romper esse ciclo de que se formar no ensino técnico é o fim. É preciso continuar estudando sempre. Acabou essa ideia de que fez o curso técnico, acabou. É preciso ter educação permanente e atualização.”
Em 2023, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Social da Indústria (Sesi) ouviram 1.001 executivos de pequenas, médias e grandes indústrias sobre a educação no país. A pesquisa mostrou que o ensino técnico é o ponto mais forte da educação brasileira, para 1 em cada 3 empresários.
A conclusão do Acordo de Livre Comércio com a União Europeia deve ser uma das medidas prioritárias para os governos dos países que formam o Mercosul. O Acordo de Facilitação de Comércio entre os membros do bloco também deve receber tratamento especial. A lista de prioridades foi entregue pelos representantes industriais de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai aos seus respectivos governos nesta segunda-feira (27).
O documento elaborado pelo Conselho Industrial do Mercosul, assinado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), União Industrial Argentina (UIA), União Industrial Paraguaia (UIP) e Câmara de Indústrias do Uruguai (CIU), foi apresentado durante o XI Fórum Empresarial do Mercosul. O evento antecede a cúpula do bloco.
Para o ex-diretor da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) Márcio Coimbra, vice-presidente da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig), a conclusão do acordo entre os sul-americanos e europeus é de suma importância para as empresas brasileiras, que poderão exportar, sem tarifas, seus produtos para os consumidores do velho continente.
"Para o Brasil, vão se baixar barreiras protecionistas que impedem os produtos brasileiros de chegar na Europa, de forma brutal. O Brasil vai exportar mais e, também, vai importar. A gente vai ter um fluxo de livre comércio com a União Europeia, que gera empregos aqui, lá, ou seja, aquilo que o livre comércio faz: gera benefícios mútuos", avalia.
Para Coimbra, o principal ganho do Brasil com a finalização do acordo será a diminuição da dependência do comércio exterior brasileiro em relação à China. "Um acordo Mercosul-União Europeia serviria para afastar a China e garantir a soberania do Brasil com maior diversificação de parceiros comerciais, o que é muito importante para a economia brasileira", avalia.
Os representantes do setor privado também elencaram o Acordo de Facilitação de Comércio do Mercosul como uma das prioridades para os países que compõem o bloco. O tratado assinado em 2019 visa estabelecer regras e princípios para simplificar o comércio entre os membros do bloco. A ideia é que as operações de importação e exportação de produtos sejam mais ágeis e baratas.
Entre as medidas, o acordo prevê que o despacho de bens não leve mais do que 12 horas ou, nos casos em que houver necessidade de análise, não mais do que 48 horas. Além disso, cria os Guichês Únicos de Comércio Exterior, cujo objetivo será agilizar as trocas comerciais. Os guichês serão pontos onde as empresas poderão se informar sobre a documentação exigida para o trânsito de bens.
Outros três assuntos foram lembrados pelos industriais como parte de uma agenda de prioridades a ser adotada pelos governos de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
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O índice de ocupação profissional dos alunos com formação técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) é de 84,4%. É o que indicam os resultados da Pesquisa de Acompanhamento de Egressos do Senai 2021-2023. Isso significa que 8 a cada 10 ex-alunos do ensino técnico de nível médio da entidade estão empregados em até um ano após a conclusão do curso. O número também é 76,3% maior em relação ao índice registrado no estudo de 2020-2022.
De acordo com o superintendente de Educação Profissional e Superior do Senai, Felipe Morgado, a pesquisa de “Acompanhamento de Egressos” tem como objetivo coletar informações sobre a atuação dos profissionais formados pela entidade no mercado de trabalho, para aprimorar a formação e oferecer cursos mais alinhados com as demandas do mercado.
“O Senai elabora os seus currículos, os seus perfis profissionais de acordo com a necessidade do setor produtivo e de acordo com as tecnologias que serão utilizadas nas empresas nos próximos anos. Isso faz com que o Senai tenha uma oferta alinhada à necessidade da indústria, além da capacidade que o Senai tem de ajudar os profissionais a terem atividades práticas. Isso faz com que eles consigam se destacar no mercado de trabalho”, pontua.
Segundo o levantamento, a maior demanda na indústria é de setores transversais — que permitem ao profissional atuar em diferentes áreas — como os técnicos de mecânica (96,5%), alimentos (95,2%), refrigeração e climatização (94,5%) e automação industrial (93,2%).
Entre os profissionais dos cursos de graduação tecnológica do Senai, a taxa de ocupação é ainda maior: 90,8% estão empregados. Já nos cursos de aprendizagem industrial e cursos de qualificação profissional, 74,6% e 72% deles estão ocupados, respectivamente.
De acordo com Morgado, é necessário cada vez mais investir na educação profissional.
“A educação profissional no mundo inteiro está crescendo e no Brasil não é diferente. Então as empresas estão buscando profissionais qualificados para atender a sua necessidade e isso é uma oportunidade, principalmente para o jovem que está estudando no ensino médio já começar a fazer a sua formação e, ao concluir o ensino médio junto com o curso técnico, ele já tem oportunidade de começar a trabalhar”, ressalta.
O superintendente de Educação Profissional e Superior do Senai ainda destaca que a qualificação faz toda diferença para quem busca uma vaga no mercado de trabalho.
“A educação profissional transforma a vida dos jovens. Ela amplia a oportunidade de conseguirem trabalho, conseguirem realizar um sonho e, principalmente de ter um incremento na sua renda. Então, eu queria destacar isso: o incremento da renda e a possibilidade de os jovens conseguirem logo uma oportunidade no mercado de trabalho. São cursos de até dois anos e rapidamente eles se destacam no mercado”, completa.
Aluno do curso técnico de mecânica de máquinas pesadas, com ênfase em máquinas agrícolas na Fatec Senai Mato Grosso, Noel Júnior atualmente trabalha como técnico mecânico trainee na empresa Iguaçu Máquinas John Deere.
“O curso no Senai abriu muitas portas para mim. Inclusive foi através de lá que eu consegui uma boa referência para entrar na empresa Iguaçu Máquinas, e a minha perspectiva de vida mudou bastante também. Ele contribuiu muito na minha vida por causa do conhecimento em máquinas agrícolas que eu não tinha antes de iniciar esse curso. Desde elementos mecânicos até elementos de tecnologia e precisão”, diz.
Conforme o levantamento do Senai, 91,7% das empresas preferem contratar profissionais formados pela instituição, enquanto 99,4% dos ex-alunos afirmam que indicariam os cursos da entidade a outras pessoas.
O Brasil vai precisar capacitar mais de 497 mil profissionais até 2025 para atuar nas oportunidades de base industrial, sendo 272 mil no nível de qualificação, 136 mil vagas no ensino técnico e 90 mil no nível superior. As áreas com maior demanda por formação são: transversais, metalmecânica, construção, logística e transporte e alimentos e bebidas. A análise foi feita pelo Observatório Nacional da Indústria, com base no Mapa de Trabalho Industrial 2022-2025.
Para a deputada federal Laura Carneiro (PSD-RJ), a educação profissional é imprescindível para um país mais competitivo, com mão de obra qualificada e com a indústria produzindo cada vez mais e melhor.
“Para o desenvolvimento de qualquer país é absolutamente necessária a educação profissional e tecnológica, no mundo que a gente vive hoje. Se você não prepara os estudantes com habilidades específicas, com conhecimentos técnicos, dificilmente você amplia a possibilidade do mercado de trabalho, de ele acessar o mercado de trabalho, acessar renda. E se você não tem isso, não tem crescimento econômico; você não tem competitividade, você não atende as demandas do mercado”, afirma.
Brasil precisa qualificar 9,6 milhões de trabalhadores em ocupações industriais até 2025
Ensino profissional deve permitir ampla formação do trabalhador, afirma especialista
Um a cada dez jovens cursa ensino técnico no Brasil; número abaixo da média dos países da OCDE
Cerca de 11% dos jovens que têm entre 15 e 24 anos fazem cursos profissionalizantes no Brasil. O percentual é inferior à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que varia de 35%, entre os estudantes de 15 a 19 anos, a 65%, entre quem tem de 20 a 24 anos.
Os dados constam no relatório Education at a Glance 2023, lançado neste mês, reunindo dados da educação dos países-membro da OCDE e de países parceiros, como o Brasil. Neste ano, o relatório tem como foco a educação profissional, considerando o “mínimo necessário para uma participação bem-sucedida no mercado de trabalho".
A pró-reitora de educação do Instituto Federal de Brasília, Rosa Amélia Pereira da Silva, destaca que investir no ensino técnico colabora para a empregabilidade dos jovens e também fortalece a economia do país.
“É importante investir no ensino técnico como porta de entrada para o mercado de trabalho, porque além da capacitação profissional, da formação integral, o investimento nessa política fortalece o processo produtivo e a economia do país”, explica.
O ensino profissional e tecnológico pode ser cursado junto com o ensino médio, com a educação de jovens e adultos (EJA) ou após a conclusão dessa etapa escolar. A modalidade de ensino é prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
A pró-reitora de educação do Instituto Federal de Brasília destaca que para aumentar a busca pela modalidade é preciso ter uma percepção real da formação integral promovida pela educação profissional, superando o senso comum.
“Um dos desafios do Brasil para mudar a realidade da baixa procura pelo ensino técnico no país é vencer o senso comum dessa visão tecnicista do ensino médio profissional, quando, na verdade, a escola técnica e tecnológica preza pela formação integral dos seus estudantes”, esclareceu.
Para aumentar o número de matrículas e a qualidade desta modalidade de ensino, foi proposta a Frente Parlamentar em Favor da Educação Profissional e Tecnológica (Frente EPT). A Frente EPT foi criada pelo Projeto de Resolução do Senado 31/2023, de autoria do senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP). A frente funcionará no Senado, mas poderá receber a adesão de deputados.
O senador Astronauta Marcos Pontes destaca a importância do ensino profissional e tecnológico, que prepara o jovem para exercer uma profissão. “O ensino profissionalizante, ele traz enormes vantagens para a empregabilidade desses jovens. Por quê? Primeiro, porque eles se qualificam dentro das necessidades e demandas das empresas, ou seja, do mercado de trabalho”.
A Frente ETP ainda tem como objetivo o amplo debate com os diversos segmentos da sociedade sobre esta modalidade de ensino, buscando aprimorar a legislação. Também visa acompanhar políticas públicas sobre o tema e ampliar o investimento público na área.
O ensino técnico deve permitir ao trabalhador uma formação ampla, em que o jovem compreenda a dinâmica do mundo moderno, a complexidade do processo produtivo e se aproprie das novas tecnologias. Essa é a visão do doutor em educação pela Universidade de Brasília Adilson César Araújo sobre a educação profissionalizante. “Uma formação que contribua para que esse trabalhador possa intervir de forma ativa no setor produtivo, e assim contribuir também para o seu desenvolvimento profissional — e por consequência o desenvolvimento econômico do país”, detalhou.
O especialista destaca que essa formação abrangente permite ao jovem não só entrar no mercado de trabalho, mas também permanecer nele. A qualidade deste ensino já é ressaltada pelo empresariado. Um levantamento do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Social da Indústria (Sesi) mostra que um a cada três empresários considera o ensino profissionalizante como o ponto mais forte da educação pública brasileira. Além disso, a mesma pesquisa mostra que, para 9 em cada 10 empresários, os cursos técnicos permitem ingresso mais rápido no mercado de trabalho.
A pesquisa do Sesi/Senai ainda aponta os pontos positivos do ensino profissionalizante apresentados pelos empresários. São eles: preparar melhor para o mercado de trabalho (45%), ter cursos mais focados (28%), apresentar cursos mais práticos (22%), ter boa aceitação no mercado de trabalho (18%), ter mais conhecimento/habilidades (17%) e o apoio no começo na carreira profissional (16%). Cada entrevistado podia apontar dois itens considerados importantes.
Karla Lacerda é uma das pessoas que comprova os pontos positivos do ensino profissionalizante. Ainda durante o ensino médio ela fez curso técnico em química no Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil, o Senai CETIQT — e então começou a trabalhar na indústria farmacêutica.
“Me abriu portas para que eu pudesse ser efetivada lá. Ter essa experiência do técnico também me ajudou muito no meu primeiro contato com o mercado de trabalho, porque eu fui um pouco mais madura. Então o técnico me possibilitou ser contratada, ter esse meu primeiro emprego de carteira assinada e tudo mais”, contou. Ela observou com quais matérias mais se identificava e resolveu fazer bacharelado em biomedicina. E posteriormente cursar especialização em gestão industrial farmacêutica, dando continuidade ao interesse desenvolvido no curso técnico.
O Congresso Nacional trabalha para aumentar a qualidade dessa modalidade de ensino. O senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) propôs a criação da Frente Parlamentar em Favor da Educação Profissional e Tecnológica, aprovada em 12 de julho pelo Senado
O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) aponta que um dos motivos da alta taxa de empregabilidade observada pelos estudantes do ensino profissional é a ainda baixa procura dos jovens pelas formações técnicas. O senador contextualiza que, estando o jovem preparado com o ensino técnico, a colocação profissional é certa. E ainda compara a diferença na busca por ensino profissionalizante no Brasil e no exterior.
“Se tivermos jovens preparados, técnicos, nós evidentemente garantimos que eles possam ir para o mercado de trabalho. Hoje, no mundo todo desenvolvido, 60%, 70% em alguns países, dos jovens fazem cursos técnicos. No Brasil nós não chegamos a 10%. Portanto, faltam técnicos no mercado, então é evidente que a formação, principalmente do sistema S, que tem participado com qualidade na educação profissional, praticamente tenham mercado garantido, emprego garantido. Então, a educação profissional é fundamental”, explicou.
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