A inovação é a saída para a retomada da produtividade do trabalho da indústria. É o que observa o professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Eduardo Maróstica, que afirma que a desaceleração da produtividade da indústria é uma tendência em várias partes do mundo, e no Brasil não é diferente.
Segundo Maróstica, a produtividade do trabalho não deve se recuperar como antes, uma vez que o uso da inteligência artificial tem se tornado cada vez mais tendência na indústria. “E vale a pena destacar sobre as dark factories, que são fábricas completamente autônomas, com baixa utilização de mão de obra humana”.
Para ele, o desafio da indústria brasileira é mudar o paradigma para investir em novas tecnologias. “Diferentemente de países de primeiro mundo, o Brasil apresenta um cenário adverso. Nós temos fábricas ainda da Indústria 3.0, enquanto o mundo fala de uma Indústria 5.0. Ou investimos em automação, melhoria de processos e manutenção preventiva, ou dificilmente recuperaremos os números que já foram muito fortes no passado.”
Entre as propostas para incentivar o desenvolvimento em inovação, estão as alterações à chamada Lei do Bem. A norma estabelece incentivos fiscais às empresas para estimular os investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I).
O projeto de lei 4944/20, em tramitação na Câmara dos Deputados, propõe permitir que a sobra do percentual dos gastos com pesquisa tecnológica excluída do lucro líquido das empresas possa ser usada nos anos seguintes.
O deputado federal Vitor Lippi (PSDB-SP), relator da proposta, destaca também o anúncio de investimentos do governo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que vai dar apoio ao financiamento da indústria brasileira.
“Então o BNDES tem acenado já com novas linhas de financiamento, está anunciando uma ampliação de novos financiamentos — que é uma área fundamental para as indústrias — e também a ampliação do financiamento para área de pesquisa e inovação, que também está muito ligada ao setor industrial do país”, ressalta.
Além disso, a medida provisória 1147/2022, sancionada como a lei 14592/2023, prevê o financiamento pelo BNDES de investimentos em inovação e digitalização com juros mais baixos. Segundo a lei, as operações de crédito do BNDES voltadas à inovação e digitalização passam a ser remuneradas pela TR (Taxa Referencial) e não mais pela TLP (Taxa de Longo Prazo).
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A produtividade do trabalho da indústria de transformação caiu pelo terceiro ano consecutivo em 2022, com queda de 2,8% na comparação com 2021. Essa é a segunda maior queda anual desde o início da série histórica em 2000, atrás apenas do resultado negativo de 2021 (- 4,7%). Em relação a 2019, período pré-pandemia, o indicador acumula queda de 7,9%. Os dados são da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A produtividade do trabalho é mensurada pelo volume produzido pela indústria dividido pelas horas trabalhadas na produção. De acordo com o levantamento, a queda observada em 2022 reflete uma variação de - 0,4% no volume produzido, com elevação das horas trabalhadas em 2,7%.
Segundo a CNI, apesar de as horas trabalhadas já terem superado o nível pré-pandemia, o volume produzido ainda se mantém 0,8% abaixo do nível registrado em 2019, o que reflete na baixa produtividade do trabalho. Segundo a gerente de Política Industrial da CNI, Samantha Cunha, a baixa produtividade da indústria brasileira resulta ainda dos reflexos da pandemia e da guerra na Ucrânia.
“As empresas, diante da expectativa que elas têm de recuperação da economia, não dispensam os trabalhadores e até contratam mais. Mas isso pode, no curto prazo, não resultar em aumento da produção. A grande parte da explicação para essa queda da produtividade nesse período tem a ver ainda com a pandemia e com os efeitos da guerra na Ucrânia, que geraram interrupções na cadeia produtiva e isso dificulta o planejamento das empresas.”
Segundo a pesquisa da CNI, a falta ou o alto custo de matérias-primas foi o principal problema apontado pela indústria brasileira entre o terceiro trimestre de 2020 e o quarto trimestre de 2022, o que dificultou ainda mais a produtividade.
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O levantamento da CNI também faz uma comparação da produtividade da indústria de transformação do Brasil em relação à média de seus dez principais parceiros comerciais. Esse indicador é chamado de produtividade efetiva. Segundo a pesquisa, entre 2019 e 2021, ela caiu 9,0% e retornou a patamares próximos aos registrados em 2014.
Entre 2011 e 2019, a produtividade efetiva do Brasil cresceu, em média, 1,4% ao ano, acumulando uma alta de 11,7%. No entanto, essa perda entre 2019 e 2021 retrocedeu grande parte do crescimento obtido em quase uma década.
O resultado é reflexo do baixo desempenho do Brasil em comparação com seus parceiros comerciais. Somente Japão (-2,1%) e França (-5,1%) registraram perdas de produtividade entre 2019 e 2021, além do Brasil. Os três são os únicos países analisados que ainda apresentam produtividade abaixo do nível pré-pandemia.
A gerente de Política Industrial da CNI, Samantha Cunha, explica que a pandemia e a guerra na Ucrânia afetaram a produtividade da indústria dos países de maneira heterogênea.
“O indicador de produtividade efetiva mostra que, mesmo que o país tenha um crescimento da produtividade, ele pode ter uma perda de competitividade se os demais países tiverem um desempenho melhor que o dele. Então essa é a razão pela qual a gente precisa olhar para o desempenho do Brasil comparado com o desempenho dos outros países.”
Segundo o levantamento da CNI, a produtividade efetiva da indústria brasileira acumula uma queda de 23%, desde o início da série em 2000.
No episódio desta semana, o podcast Giro Brasil 61 traz informações sobre a suspensão de exportação de carne para a China após registro de “vaca louca” no Pará; guerra e lockdown fizeram brasileiros gastarem mais com alimentos e combustíveis; Volkswagen suspende produção em fábricas no Brasil; Anvisa analisa pedido de uso emergencial de vacina bivalente da Moderna; Inscrições para o Sisu terminam nesta sexta; especialista recomenda reunir comprovantes com antecedência para declaração do IR.
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O presidente norte-americano, Joe Biden, anunciou o envio de 31 tanques de guerra para uso dos militares ucranianos no conflito contra a Rússia. O comunicado foi feito na última quinta-feira (26) na Casa Branca, dois dias depois da data que marcou 11 meses do início do embate.
Na ocasião, Biden garantiu que a medida não se trata de uma ameaça contra o presidente russo, Vladimir Putin. “O anúncio de hoje agrega no árduo trabalho e compromisso dos países, liderados pelos Estados Unidos, para ajudar a Ucrânia a defender sua soberania e território. É disso que se trata: ajudar a Ucrânia a defender e proteger o território ucraniano”, afirmou o chefe de Estado.
Com a escalada das tensões, o cenário mundial fica mais incerto, o que inclui o Brasil. “Indiretamente, o Brasil acaba também sendo afetado, porque você reduz as relações comerciais entre Brasil e Europa, você provocou uma inflação maior no mundo, o próprio mercado americano trabalhou a política monetária subindo a taxa de juros, isso afetou o preço do dólar também”, comenta o professor e economista Cesar Bergo.
Acontece que o impacto no mercado brasileiro foi positivo. Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBRE), a balança comercial do país fechou o ano de 2022 com um superávit – isto é, quando o valor das exportações supera o das importações – de US$ 61,8 bilhões. “A balança comercial brasileira foi beneficiada porque as commodities aumentaram de preço. O Brasil é altamente exportador não só de grãos, mas também de petróleo bruto, então afetou positivamente a economia nesse sentido”, avalia Bergo.
A análise do Ibre indica justamente que as restrições da oferta agrícola associadas à guerra na Ucrânia foram um fator preponderante para esse resultado, uma vez que elevaram os preços agrícolas. O assessor técnico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Lucas Martins, alerta que, se por um lado a demanda pelos produtos agrícolas subiu, por outro, também aumentaram os custos de produção. “Desde o início dos conflitos, em fevereiro de 2022, os fertilizantes dispararam. Os produtores rurais precisam desses insumos para garantirem a produção das lavouras e o alto custo fez com que os produtores precisassem se programar muito mais em relação ao momento de compra desses insumos e de venda da safras. A safra atual de grãos, a safra 2022-23, está sendo a safra mais cara da história. Os produtores nunca desembolsaram tanto para colocar as culturas no solo”, pondera o especialista.
Uma coisa que Bergo e Martins concordam é que a continuidade do conflito não é algo bom para nenhuma parte envolvida, seja direta ou indiretamente. Além disso, caso as tensões não diminuam, tanto o governo quanto o setor produtivo vão precisar usar a criatividade para suavizar o impacto no mercado brasileiro.
Um estudo da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados divulgou dados sobre os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia para o Brasil. O levantamento mostra que os preços de produtos importantes para a economia brasileira, como adubos, fertilizantes e petróleo dispararam desde o início do conflito no leste europeu, mas que o país pode ter sido beneficiado com a realocação de investimentos estrangeiros.
A consultoria aponta que 23% dos fertilizantes usados no Brasil vêm da Rússia. O país compra cerca de R$ 3,5 bilhões em fertilizantes por ano do país e entre março de 2021 e março deste ano, a importação desses insumos vindos de lá cresceu 122,5%.
Os fertilizantes são importantes para aumentar a produtividade e qualidade nas lavouras. Desde o início da guerra, o preço global de adubos e fertilizantes subiu 140,4%. A consequência natural é que os campos sejam menos produtivos caso a agricultura brasileira, a quarta maior consumidora mundial de fertilizantes, não consiga substituir a quantidade de insumos que antes importava dos russos.
Para o cientista político Paulo Kramer, especialista da Fundação da Liberdade Econômica, as autoridades brasileiras agiram bem para minimizar os impactos da guerra sobre a economia do país.
“É preciso reavaliar positivamente a viagem que o presidente Jair Bolsonaro fez à Rússia um pouco antes da invasão à Ucrânia. Essa visita gerou muita polêmica, porque parecia que o Brasil estava escolhendo um lado, mas, passados quatro meses, a gente pode enxergar melhor que ele se esforçou para garantir o abastecimento dos fertilizantes que são tão importantes para o nosso agronegócio, nossa produção e exportação de alimentos”, avalia.
Kramer destaca que mais de 80% dos fertilizantes usados na produção agrícola brasileira vêm do exterior, mas que além da visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia, a viagem da então ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ao Canadá, foi determinante para garantir o estoque dos insumos a médio prazo. “Foi um esforço de diversificar as nossas fontes de fertilizantes”.
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Desde o início do conflito no leste europeu o preço do petróleo no mercado externo aumentou cerca de 70%, de acordo com o estudo da Consultoria Legislativa. Apesar de não comprar petróleo russo, o que não gera prejuízo para o abastecimento interno, o Brasil, assim como outros países, viu o preço dos combustíveis disparar nos últimos meses, o que aumentou o custo dos insumos, dos fretes e, por consequência, a inflação.
Segundo o cientista político, a alta no preço do petróleo prejudica a população mais pobre. “A Rússia é responsável pela exportação de 25% de todo o óleo diesel do mundo. O óleo diesel é fundamental para o transporte rodoviário, e o Brasil é um país rodoviário. Se encarece o diesel, isso encarece o frete dos gêneros de primeira necessidade e, obviamente, vai encarecer o preço do próprio produto que o brasileiro consome, um sacrifício desproporcionalmente maior para as camadas mais pobres da população”, explica.
O senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) defende que o Brasil só vai conseguir conter a escalada no preço dos combustíveis no nível interno se houver articulação entre União, estados e municípios. “Agora não é hora de procurar culpados. É hora de resolver o problema. A crise dos combustíveis é mundial. Temos uma guerra regional em curso e saímos de uma pandemia. São muitos os desafios e nossa obrigação é atuar para minimizar os impactos para a população brasileira. Todo mundo precisa fazer a sua parte. Entendo que o governo federal está buscando uma solução e compactuo com isso”, afirma.
A consultoria destaca que a guerra entre Rússia e Ucrânia não trouxe apenas efeitos negativos para a economia brasileira. O estudo diz que o Brasil pode ter sido beneficiado de forma momentânea por investimentos estrangeiros realocados por conta do conflito.
Paulo Kramer diz que é cedo para analisar com precisão o desvio de capital internacional em direção ao Brasil, mas que o país vem melhorando a sua capacidade de atrair investimentos nos últimos anos. “Agora só falta os poderes da República se entenderem melhor entre si, de maneira a diminuir aquilo que mais assusta investidores estrangeiros, que é a insegurança jurídica, quer dizer, se as regras vão se manter ou não. É muito importante que a gente insista nesse ponto: a harmonia entre os poderes é muito importante para fortalecer a nossa capacidade de atração de investimento, que gera emprego e renda”, conclui.
Webinar será realizado no dia 17/3, das 15hs às 17hs, com transmissão ao vivo
A questão da dependência que o Brasil tem do exterior de matérias primas para fertilizantes ganhou destaque com o conflito Rússia x Ucrânia. O tema já vinha preocupando o governo, que agora lança o Plano Nacional de Fertilizantes, objetivando estimular o aumento da produção interna dos insumos essenciais para o desenvolvimento do agronegócio.
Com o objetivo de discutir os caminhos e as possibilidades que o Brasil tem para aumentar a oferta interna dessas matérias primas e a viabilidade das metas estabelecidas pelo PNF, a Brasil Mineral está organizando o webinar “Fertilizantes: Como reduzir a dependência externa?”, que reunirá Bernardo Silva (Diretor Executivo do Sinpriferti), Márcio Remédio (diretor de Geologia e Recursos Minerais do SGB-CPRM), Luís Maurício Azevedo (presidente da ABPM) e Antenor F. Silva Júnior (membro do Conselho Consultivo da Brasil Mineral) e Francisco Alves (diretor editorial da Brasil Mineral).
O webinar, com transmissão ao vivo, será realizado no dia 17/3, das 15hs às 17hs. Maiores informações pelo email: brasilmineral@brasilmineral.com.br.
Neste episódio (11), o podcast Giro Brasil 61 comenta os assuntos que estiveram em alta durante a semana.
Em 8 de março, celebramos o dia das mulheres, e lembramos a busca pelo cumprimento de direitos básicos. O impacto da Guerra na Ucrânia sobre o abastecimento de trigo e a alta no preço. O adeus a Orlando Brito, um dos maiores fotojornalistas do País. A obrigação do prefixo 0303 para empresas de telemarketing e a Síndrome da Gaiola, que pode afetar as crianças na volta às aulas presenciais.
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Guerra na Ucrânia não compromete abastecimento de trigo, mas provoca alta no preço do produto
Nos últimos dois anos, o mercado global de trigo sofreu um sério impacto por crises climáticas nos países líderes na produção e pela pandemia da Covid-19. Agora, outra questão preocupa o setor: a guerra entre Rússia e Ucrânia. Na avaliação do presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, é inevitável que esse conflito armado afete diretamente os preços do produto em todo o mundo.
“A desorganização daquela região já está causando um grande impacto no mercado de trigo, como vimos nas cotações. E o trigo é um dos produtos mais afetados, por causa da dependência do mercado global da produção que vem da Rússia e da Ucrânia. Na minha visão, não haverá, a curto prazo, nenhum problema de abastecimento. O que haverá é a continuidade e talvez a ampliação de aumento dos preços”, considera.
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Os russos são os maiores exportadores do produto no planeta. Já a Ucrânia ocupa a quarta posição neste ranking. Os dois países são responsáveis por aproximadamente 30% do mercado mundial de exportação do produto, o que corresponde a 210 milhões de toneladas.
O mercado mundial de trigo já se movimenta para elevar o preço do cereal.
De acordo com publicação da Abitrigo, o valor do produto na Bolsa de Chicago (EUA) bateu recorde histórico de US$ 12,94 por bushel, nessa segunda-feira (7).
O resultado é superior à cotação registrada em março de 2008, de US$ 12,83. Desde o início da guerra, houve elevação para o trigo de 46,25% em Chicago. No interior do Rio Grande do Sul, a tonelada do grão atingiu R$ 1.960. O preço se trata de um recorde, com salto de 26% em uma semana.
Para a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Tereza Cristina, essa variação deve acompanhar a extensão do conflito. “Se a guerra acabar hoje ou amanhã, teremos um impacto. Se ela continuar por muito tempo, teremos outro impacto. Nós temos que diminuir esses impactos. Precisamos achar as alternativas de ter o fornecimento, o abastecimento. O preço dependerá do mercado. O preço do trigo subiu porque a Ucrânia é um grande produtor e influencia o mercado global”, destaca a ministra.
Caso a guerra seja prolongada, haverá continuidade da suspensão dos embarques nos portos ucranianos e os importadores devem concentrar as demandas em outros exportadores, como Estados Unidos, Austrália, Canadá e Argentina.