A primeira das cinco rotas de integração entre Brasil e países vizinhos deverá operar já em 2025, segundo a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet. Além disso, até 2026, outras duas rotas serão concluídas.
A Rota 2, primeira a ser inaugurada, ligará toda a Região Norte e parte do Nordeste à tríplice fronteira com Colômbia, Peru e Equador.
De acordo com a ministra Simone Tebet, só com o mercado sul-americano, os produtos brasileiros terão acesso a 200 milhões de pessoas.
Segundo o governo federal, as cinco rotas têm o papel de incentivar e reforçar o comércio do Brasil com os países da América do Sul e, ainda, reduzir o tempo e o custo do transporte de mercadorias entre o Brasil e seus vizinhos e o continente asiático.
Confira todas as rotas de integração:
Desde a última quinta-feira (11), empresas exportadoras podem solicitar financiamentos na modalidade pré-embarque, no âmbito do Programa de Financiamento às Exportações (Proex). A autorização para o início dos desembolsos foi dada pelo Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex).
Em abril, a Camex aprovou a ampliação do Proex para incluir o financiamento antes do embarque das mercadorias, com a regulamentação finalizada pelo Tesouro Nacional e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho. Até então, o Proex oferecia crédito apenas na fase pós-embarque, após a comprovação do envio das mercadorias ou faturamento dos serviços.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) destacou que a ampliação do Proex visa beneficiar especialmente o setor de defesa e empresas de pequeno e médio porte, que enfrentam dificuldades para acessar financiamentos oferecidos por bancos privados. Com a nova modalidade, o desembolso poderá ocorrer até 180 dias antes da exportação e será necessário comprovar a operação em até 15 dias da data prevista no cronograma aprovado.
O Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu manter em 18%, por mais um ano, as tarifas de importação para resíduos de papel, plástico e vidro. A tarifa é a mesma desde julho de 2023 e, segundo nota do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a medida tomada ano passado teve impactos, ao reduzir as importações desses resíduos.
De acordo com o ministério, de agosto de 2023 a maio deste ano, as importações de restos de papel caíram 48,3% e a de plásticos tiveram redução de 33%, o que contribuiu com o mercado nacional de reciclagem. A maior parte dos resíduos importados vem de países de fora do Mercosul. A alíquota de 18% iria expirar em 31 de julho. O ministério informou, ainda, que a prorrogação garante a abrangência da medida a todos os tipos de resíduos de papel, plástico e vidro relevantes.
O melhor semestre da série histórica de aberturas de negócios internacionais para o agronegócio brasileiro mostra a expansão de exportações de produtos agrícolas distintos, como pescados de cultivo e derivados e sementes de hortaliças. Em seis meses de 2024, o Brasil fechou negócios com 30 países com 72 novas oportunidades comerciais, número que supera recordes anteriores e é maior do que o registrado durante todo o ano de 2019 e 2022. Inclusive, todo o ano de 2023 teve 78 mercados em 39 países. Os dados são do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
O mês de junho lidera com a maior contribuição para o melhor semestre da série histórica para o comércio internacional da agropecuária brasileira. Foram 26 novos mercados em 13 países – o que corresponde a 32% de todas as aberturas de 2024.
O coordenador de comércio internacional da BMJ Consultoria, Josemar Franco, de Brasília-DF, salienta que apesar do número expressivo de mercados abertos mundialmente, os novos negócios não significam exatamente uma maior relevância econômica. Ele explica que é necessário observar os mercados voltados para carnes, por exemplo, que são exportações de maior volume.
“Apesar de o governo ter aberto todos esses mercados, nem todos eles têm uma relevância econômica muito grande. Às vezes o número não diz tudo, ou seja, você abre um mercado num país X para um produto que a gente não exporta muito, não tem um impacto econômico relevante. Dentro de todo esse esforço do governo, o que mais vale a gente observar são os mercados principalmente voltados para a carnes, porque tem um impacto econômico muito grande”, explica.
Nesse cenário de exportações economicamente relevantes, Josemar Franco menciona a abertura de mercados do ramo frigorífico com a China e também com o México. "Essas aberturas tiveram impacto econômico e comercial relevante. Nós também tivemos aberturas significativas no México para algumas plantas brasileiras, para exportar para aquele país. Então, esses são exemplos de aberturas de mercado que trazem impactos consideráveis para o país", completa.
De acordo com o Mapa, entre os principais produtos com acordos – com requisitos sanitários e fitossanitários – estão diversos produtos agrícolas distintos, como pescados de cultivo e derivados, sementes de hortaliças, suínos vivos e seus derivados, além de carne suína. A lista também engloba os pescados, gelatina e colágeno de várias origens, proteínas processadas de aves e produtos à base de camarões. Embriões bovinos, sêmen bovino, café verde, ovos, milho não transgênico, entre outros.
O recorde em aberturas de mercados para outros países pode gerar consequências no cenário nacional para os produtores. A pesquisadora e economista Cristina Helena de Mello, de São Paulo (SP), analisa que, como o Brasil tem uma das agriculturas mais produtivas do mundo, com forte amparo tecnológico, um dos impactos desse cenário de maior volume de mercados abertos pode gerar uma baixa produção de empregos. Porém, ela pondera que a longo prazo beneficia a geração de renda e a demanda por infraestrutura no país, por exemplo.
"O impacto econômico de uma abertura de mercado para essas culturas é, primeiro, um aumento na produção agrícola voltado para a estrutura produtiva; baixa produção de empregos, porque a agricultura brasileira exportadora ela é intensiva em capital, em tecnologia e hoje nós temos tecnologias muito sofisticadas na nossa agricultura. Mas, com certeza, o impacto de longo prazo é um benéfico na geração de renda e de demanda por silagem, por armazenagem, por infraestrutura e isso tudo tem desdobramentos que multiplicam a renda no país", avalia Cristina Helena.
A pesquisadora destaca, ainda, os reflexos ao mercado interno, como melhor qualidade nos produtos e maior valor. "Ambos são impactos que a gente prevê pro nosso mercado interno. Uma melhor qualidade na produção, atendendo padrões internacionais, e uma precificação que tende a ficar um pouco mais elevada enquanto a gente não consegue expandir fronteiras produtivas", pontua Cristina Helena.
Segundo os especialistas, o cenário é positivo para a manutenção do atual patamar de abertura mercados. Mas ponderam que ainda existem oportunidades de mercado que ainda não foram atingidas pelo governo, o que depende de boas negociações com o exterior e da manutenção dos critérios de qualidade para os produtos.
Os novos mercados internacionais com produtos do agro brasileiro em 2024 englobam todos os continentes. A Ásia foi o continente com maior número de países beneficiados (13), seguido das Américas (7) e África (6). Já a Europa soma 3 países e a Oceania, apenas um.
Confira a relação dos países de cada continente:
A expansão também tem impactado as exportações brasileiras, com 49,6% o total nos primeiros cinco meses de 2024 representando o agronegócio, com geração de US$ 67,17 bilhões em receita.
Confira a evolução dos mercados e países atendidos (2019-2024), segundo o Mapa:
A taxação em 20% de compras online no valor de até 50 dólares feitas em sites internacionais por consumidores brasileiros terá um efeito amargo para empresas nacionais que importam produtos estrangeiros para revender no país. Essa é a análise do tributarista Guilherme Di Ferreira, head da área tributária do Lara Martins Advogados.
Segundo ele, após a medida passar a vigorar no Brasil, empresas que importam estes produtos que estão no escopo da proposta, vão sofrer uma concorrência acirrada na briga por consumidores finais, uma vez que terão que pagar o imposto federal em relação à essas importações e, consequentemente, repassar este custo ao valor global do produto em revenda. O que não vai acontecer com o consumidor final brasileiro que decida manter a prática em comprar em sites internacionais, mesmo pagando o tributo.
"As empresas brasileiras não conseguirão concorrer com as compras de pessoas físicas em sites estrangeiros, porque elas terão que repassar o valor da tributação e, além disso, colocar sua margem de lucro e seu custo, o que trará muita onerosidade para o valor final do produto", destaca o especialista.
Diante desse cenário desfavorável, Di Ferreira afirma que as importadoras brasileiras terão que usar de várias estratégias para se manter no mercado e conquistar clientes. "Então, as empresas brasileiras terão que mostrar outras oportunidades, como agilidade da entrega do produto, já existir o produto a pronta entrega ou tentar comprar volumes maiores para reduzir o valor global para revenda", acrescentou.
Já em relação à empresas internacionais que vendem seus produtos ao Brasil por meio de seus sites eletrônicos, o tributarista explica que elas também serão mais controladas, da mesma forma que as brasileiras e os consumidores finais, em relação às vendas para o país.
Ele também afirma que, com a taxação, empresas como Shopee, Shein e Ali Express, que detêm grande público consumidor no Brasil, terão que encontrar estratégias para não perder clientes por conta da cobrança do imposto. "Ou terão que reduzir a sua taxa de lucro para que compense o valor da nova tributação ou então levar descontos no valor final do produto, para que seja atrativo para o consumidor final brasileiro continuar fazendo suas compras em sites internacionais", avaliou.
Quando se olha para o consumidor final, Di Ferreira ressalta que o impacto natural será o aumento do valor final que será pago naquela compra. "Ele não vai estar pagando mais no produto, mas estará pagando mais tributos. Então, ele estará gastando mais para o mesmo produto e isso leva a um impacto consequente, que será a opção do consumidor de deixar de consumir aquele produto", analisou.
"Possivelmente, os consumidores não irão adquirir os produtos vendidos aqui no Brasil, pois os produtos terão um valor muito mais elevado e, até mesmo pode ser que os consumidores continuarão a fazer suas compras internacionais, pois mesmo com uma tributação maior o produto será mais barato do que o mesmo produto vendido no Brasil", observou Guilherme.
O especialista em direito tributário Asafe Gonçalves aponta que a cobrança de fato do tributo somente será feita se o produto estrangeiro for fiscalizado na Receita Federal.
"Se a Receita Federal pegar algum lote desse, de remessa que tá vindo de fora, ela pode aplicar a taxação e aí vai ficar a critério do contribuinte se ele vai manter ou não o produto e se vai valer a pena ou não pagar aquela taxa", afirmou.
Di Ferreira tem posicionamento semelhante. Segundo ele, as implicações do ponto de vista jurídico a empresas brasileiras e consumidores finais brasileiros é que não mais conseguirão deixar de pagar os tributos relativos às compras internacionais, pois agora o governo terá um maior controle de quais compras acontecem e qual o consumidor, seja pessoa física ou jurídica, está fazendo essa compra e se está sendo feita para revenda ou para consumo final. "De toda a forma será taxado, sintetiza.
O anúncio do presidente Lula de que pode vetar a taxação federal dos produtos importados inferiores a US$ 50 alegrou clientes que costumam fazer compras em sites estrangeiros — sobretudo chineses. Como é o caso da estudante Renata Araújo, de 26 anos, moradora de Brasília, que todo mês faz uma comprinha online.
“O que eu costumo comprar nos sites chineses são coisas de beleza, como gloss, maquiagem, presilha, ou coisas para casa. A diferença de preço dos produtos chineses para os brasileiros é bem grande e a qualidade, às vezes, é igual a do Brasil, ou até mesmo inferior.”
A cobrança do imposto de importação desses produtos foi incluída no projeto que institui o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover) que seria votado na última quarta-feira (22), mas foi adiada a pedido do governo. O debate não é novo, começou em 2023, quando o governo se mostrou favorável à taxação dos produtos abaixo de US$ 50 — “o que gerou uma repercussão negativa em relação à imagem do governo junto a segmentos que o apoiam”, explica o cientista político Eduardo Grinn.
Diante disso, o governo recuou, mesmo causando uma disputa interna com o Ministério da Fazenda, que defende a taxação e o consequente aumento da arrecadação.
Hoje o debate está no mesmo pé.
“O Lira (presidente da Câmara) ouvindo o setor varejista brasileiro que alega que há enormes prejuízos de receita e desemprego, tem buscado atuar no sentido da taxação dessas compras. O Lula, num ano de eleição e tendo em vista a repercussão negativa do ano passado, está com receio. O Haddad, por sua vez, é favorável.” O cientista político avalia que, em meio a essa disputa, tudo indica que deverá se encaminhar para um acordo intermediário.
O economista César Bergo explica que hoje, todo produto que chega no país no valor de até US$ 50, não paga impostos. Para ele, um prejuízo para o mercado interno que não consegue ocorrer com o que vem de fora.
“Isso prejudica a indústria nacional e prejudica o comércio, porque o produto chega sem imposto no Brasil e causa uma concorrência desleal. O contribuinte, por sua vez, gosta, pois paga barato, mas o país acaba tendo um grande prejuízo.”
O economista ainda avalia que US$ 50 são R$ 250 — e essa não é uma quantia desprezível. Os setores mais afetados — com a indústria têxtil, calçadista — acabam tendo prejuízo grande com a não tributação.
“A taxação mudaria sim, traria justiça tributária, distribuição às riquezas de forma igualitária e possibilitaria o governo de fazer uma arrecadação.”
Atualmente, por meio do programa Remessa Conforme, as compras do exterior abaixo de US$ 50 são isentas de impostos federais — e taxadas somente pelo Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) com alíquota de 17%, arrecadado pelos estados. O imposto de importação federal, de 60%, incide somente para remessas provenientes do exterior acima de US$ 50.
Remessa Conforme: Mercado Livre e Shopee aderem ao programa
O economista e professor da FAAP de São Paulo, Sillas Sousa, avalia que o impacto econômico da não taxação desses produtos não é o maior problema para o setor produtivo hoje. “A indústria nacional está sucateada. Ela não recebe investimentos nem dos próprios industriais, nem de incentivos do governo há muito tempo.” Na opinião do especialista, esse setor precisa ser olhado com mais atenção.
Segundo o professor, falta mobilização também dos industriais e dos empresários do setor que não se movem o suficiente para causar processos inovativos. A culpa vem um pouco dos dois lados”, avalia.
O resultado do balanço de pagamentos do Brasil em março de 2024 — isto é, o registro de todas as operações econômico-financeiras com outros países — trouxe boas e más notícias para o país, avalia Paulo Rocha, especialista em comércio exterior. Se por um lado, as contas externas fecharam o mês com saldo negativo de US$ 4,6 bilhões, por outro, o investimento estrangeiro por aqui foi o maior para o mês de março desde 2012.
"Os investimentos diretos no país aumentaram, o que é uma boa notícia", avalia Paulo Rocha. De acordo com o Banco Central, os aportes estrangeiros no Brasil totalizaram US$ 9,6 bilhões, ante US$ 7,3 bilhões em março do ano passado.
A balança comercial de bens também foi superavitária, ou seja, o Brasil vendeu mais matéria-prima e produtos do que comprou. As exportações somaram US$ 28,5 bilhões, enquanto as importações totalizaram US$ 23,4 bilhões, saldo de US$ 5,1 bilhões. Em março de 2023, no entanto, o saldo foi de US$ 9,3 bilhões.
As exportações caíram 14% em relação ao mesmo período do ano passado, queda que Rocha considera determinante para o resultado da balança comercial e, por consequência, do balanço de pagamentos.
"A balança comercial foi superavitária, mas teve desempenho bem inferior ao do mesmo mês do ano passado e isso representa, principalmente, uma queda nas receitas de exportação em consequência de eventos climáticos".
Vale lembrar que a balança comercial de bens é apenas um dos componentes da balança de pagamentos de um país, que inclui também a balança de serviços, como transportes; e de renda, como lucros e dividendos.
A conta de serviços fechou março com déficit de US$ 3,7 bilhões, enquanto a de renda primária teve saldo negativo de US$ 6 bilhões. Somadas à conta da balança comercial de bens, elas contribuíram para o resultado geral de queda, diz Rocha. Mas isso não é motivo para preocupação, avalia.
"O fato de, em março, as transações do balanço de pagamentos registrarem um déficit, enquanto no mesmo mês do ano passado o resultado tinha sido de superávit, representa uma maior saída de divisas, mas não tem impacto negativo significativo para as contas do país", diz.
No acumulado de 12 meses, as contas externas brasileiras registram um déficit de US$ 32,6 bilhões, o equivalente a 1,23% do Produto Interno Bruto (PIB).
A abertura de novos mercados internacionais para o agronegócio brasileiro aponta a capacidade de expansão do setor em vendas externas. No primeiro quadrimestre de 2024, o Brasil fez negócio com 19 países e estabeleceu 31 novas oportunidades comerciais. Com esse resultado, o país alcançou uma posição histórica, conforme levantamento do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
Na avaliação do advogado especialista em direito agrário Francisco Torma, o desenvolvimento do agronegócio brasileiro é fundamental para tornar o cenário econômico do país mais saudável.
“A grande vantagem econômica está sempre vinculada e relacionada ao nosso saldo positivo na balança comercial. Então como o Brasil é um país que sempre tem um saldo positivo na sua balança comercial, ou seja, exporta mais do que importa, isso é fundamental para um incremento da nossa economia, para a boa saúde da nossa economia”, observa.
Torma acrescenta que, além de impulsionar a balança comercial, o agronegócio brasileiro consegue gerar mais empregos, mais desenvolvimento econômico e mais impostos recolhidos.
“Certamente a gente quer esse tipo de situação dentro da nossa relação exportações e importações”, destaca.
Os produtores comemoram esse resultado. Eles acreditam que entrar no mercado mundial é uma oportunidade, principalmente, para o pequeno produtor. “O impacto da abertura de mercados não chega apenas às grandes agroindústrias ou lavouras. A indústria finaliza algo que começa lá na região ribeirinha”, lembra Rafael Ferreira, diretor mercadológico da Petruz Fruity, empresa paraense que faz diversos produtos a partir do açaí.
Rafael Ferreira lembra que os produtores de lugares distantes do país que compõem a cadeia se beneficiam com a internacionalização da produção.
"Muitas vezes, por trás de um dia nosso de produção, tem centenas de famílias. Se tem muita família, tem renda sendo gerada todo dia, tem oportunidade, tem poder de compra, então isso é positivo para a gente, é positivo para a cadeia e, para agricultura familiar, com certeza, também é", avalia.
O diretor mercadológico da Petruz Fruity também celebra a oportunidade de apresentar o seu produto no mercado externo.
“Entrar na cultura de consumo de açaí, para a gente é uma razão de muita felicidade. Não é ainda um mercado que está superaquecido, mas a gente sabe que estamos nos primeiros passos disso acontecer", ressalta.
Desde o início do ano, o Brasil tem demonstrado um cenário otimista para diferentes produtos. Dados do Mapa revelam que o histórico das novas aberturas de mercado inclui não somente a exportação de produtos já consolidados – como carnes e soja – mas também uma variedade de outros itens como pescados, sementes, gelatina e colágeno, ovos, produtos derivados de reciclagem animal, açaí em pó, café verde, além de embriões e sêmen.
No quadro atual, advogado Francisco Torma destaca o bom desempenho da soja.
“Nós somos um país que exporta muito commodities, mas principalmente soja, e outras coisas também como carnes e outros tipos de grãos. Mas a nossa capacidade de exportação é muito vinculada ao produto soja”, explica.
Mas ele acredita que é preciso ir além. “Quando nós temos um aumento dos produtos e dos países que sai dessa bilateralidade Brasil-China com a soja, isso é vantajoso para o produtor que consegue atingir novos mercados”, avalia.
O levantamento do Mapa revela que a cada quatro dias, um novo mercado foi aberto para o agro neste ano. Março foi o mês que liderou o período com dez novas aberturas em sete países, seguido por janeiro, que registrou nove mercados em cinco países. Fevereiro e abril completam a lista, com aberturas em sete e cinco mercados, distribuídos por seis e três países, respectivamente.
De acordo com a pasta, as concessões sanitárias obtidas de cada país são feitas através de acordos com os requisitos sanitários e fitossanitários, permitindo a comercialização dos produtos agrícolas e o fortalecimento das parcerias.
Clique aqui para conferir a lista completa dos mercados abertos em 2024.
Uma possível escalada do conflito entre Israel e Irã teria impacto quase insignificante na balança comercial brasileira. A guerra, porém, pode trazer outros efeitos indesejados, como o encarecimento dos combustíveis, a fuga de investimentos e a desvalorização do real frente ao dólar. É o que apontam especialistas ao Brasil 61.
Krisley Mendes, pesquisadora de comércio exterior, afirma que os dois países têm participação muito baixa nas exportações e importações brasileiras. Enquanto Israel foi apenas o 54º principal destino das vendas ao exterior no ano passado, o Irã foi o 28º entre 2021 e 2023. Já quando o assunto é o que o Brasil compra das duas nações, Tel Aviv ocupou entre a 28ª e 35ª origem, enquanto Teerã teve presença ainda mais tímida: 86º.
Segundo a especialista, haveria, no máximo, alguns prejuízos setoriais. "12% de todo milho produzido pelo Brasil vai para o Irã. Embora no global isso seja pouco, para a cadeia do milho tende a ter um impacto mais importante".
Como o Brasil 61 já mostrou, no caso de Israel os impactos se dariam sobre alguns municípios, como é o caso de São Félix do Xingu (PA), cujas exportações para Israel representaram 88% de tudo o que a cidade vendeu ao exterior no ano passado.
O economista Alessandro Azzoni lembra que o mercado de petróleo ainda não foi afetado pela mais recente crise no Oriente Médio. Mas ele alerta que, se o conflito se intensificar, esse cenário pode mudar rapidamente, uma vez que o Irã é um dos maiores produtores do mundo e, na região do Golfo Pérsico, situa-se o Estreito de Ormuz, por onde escoa mais de 30% do petróleo global.
"Praticamente 30% do consumo do mundo sai por esse estreito, e essa área fica em área de guerra e, automaticamente, os navios petroleiros não poderiam fazer os seus carregamentos por causa de um risco de explosão, de incêndio ou até de segurança dos próprios tripulantes. Aí, sim, nós teremos um impacto significativo na economia", afirma.
No entanto, desde o ataque iraniano a Tel Aviv no dia 13 de abril, o que se viu foi o preço do barril Brent para junho — referência da commodity —– cair de US$ 90,10 para US$ 86,97.
Professor de Finanças e Controle Gerencial do Instituto Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rodrigo Leite destaca que em caso de alta na cotação do petróleo em nível internacional, o governo brasileiro pode ser pressionado a reajustar o preço dos combustíveis.
"Grande parte do fato de que o Brasil ainda consegue manter a inflação sob controle é por causa da retenção do preço da gasolina. Imagina se o preço do petróleo subir. Isso vai ter uma pressão, e o governo vai ter que reajustar o preço do combustível. Isso impacta diretamente na inflação, porque o combustível afeta toda a cadeia produtiva, desde o insumo até a entrega ao consumidor".
Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço da gasolina praticado no Brasil está com defasagem média de 16% em relação ao internacional.
Um outro efeito indesejado que a guerra pode trazer é a fuga de investidores dos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, para nações ricas. "Os países em desenvolvimento acabam sendo mais afetados financeiramente, porque o fluxo de capital internacional passa a buscar mercados mais confiáveis, ou menos instáveis, vamos dizer, a esse problema", pontua Krisley.
Em um cenário em que a inflação americana continua resistente e o banco central daquele país mantém taxas de juros atrativas para investidores, a fuga de capital tende a ocorrer naturalmente, diz Azzoni.
Uma das consequências da saída de investidores, afirma o professor Rodrigo Leite, é a desvalorização do real frente ao dólar, processo que se intensificou no último mês, em que a moeda estadunidense passou de R$ 4,97 para R$ 5,20. "A gente observou esse aumento. Se houver realmente uma guerra mais acentuada no Oriente Médio vai haver um aumento ainda maior no câmbio. Isso é positivo para as exportações — e negativo para as importações", explica.
A indústria nacional de máquinas e equipamentos fechou o mês de janeiro com um total de US$ 1,1 bilhão em exportações, o que representa 7,3% de crescimento em relação ao mesmo mês de 2023. O ano passado foi histórico para o setor, marcado pelo bom desempenho nas exportações, que somaram quase US$ 14 bilhões em máquinas.
Por outro lado, as importações no setor também cresceram, tanto em relação ao mês imediatamente anterior, com alta de 4,8%, quanto em relação ao mesmo mês do ano anterior, 7,3%. O total de exportações chegou a US$ 2,3 bilhões em
janeiro contra US$ 2,1 bi em janeiro de 23.
Historicamente o setor é deficitário quando se fala em balança comercial, pois o Brasil sempre importou mais do que exportou. Mas o cenário vem mudando. Segundo Leonardo Silva, Analista de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), o setor apresenta um crescimento nas exportações, num ritmo mais acelerado do que o observado com relação às importações. Ele explica o que contribuiu para isso.
“A gente vê o setor se voltando cada vez mais para o mercado externo, isso tem apoio de entidades, fortalecendo o setor de máquinas e equipamentos no mercado internacional. Vemos também uma ampliação do número de países para onde ocorrem essas exportações e o volume também de produtos exportados.”
Com relação às receitas de vendas de máquinas, o faturamento das empresas em janeiro registrou queda. A redução veio tanto na comparação mensal (0,3%) como na comparação anual, quando a redução foi de 21,7%. Segundo a Associação que representa o setor, tradicionalmente, janeiro costuma ser pior que o mês de dezembro. Mas os números são sazonais, e há expectativa de melhora ao longo do ano.
“A gente espera para 2024 um crescimento na ordem de 3% na receita total do setor. Notamos que com as taxas de juros reduzindo e aumentando a quantidade de projetos de investimentos, o cenário pode ficar mais positivo ao longo do ano,” analisa Leonardo Silva.
Os 3% seriam um fôlego para as empresas. “Essa melhora não recuperaria as perdas de 2023, mas já seria uma reversão de sinal das perdas que vêm ocorrendo nos últimos anos”, avalia o economista.
Apesar do recorde de exportações em 2023, o setor de máquinas e equipamentos ainda enfrenta um grande desequilíbrio comercial com o mercado externo. O que se reflete em números já que o déficit comercial — entre o que se vende e o que se compra — chegou a US$ 12,8 bilhões em 12 meses.
A maior parte do que chega ao Brasil vem da China, EUA, Alemanha e Itália. Depois de uma leve queda no ano passado, o país asiático voltou a registrar crescimento no mercado nacional em 2024 e em janeiro passado foi responsável por 32% de todas as máquinas que entraram no Brasil.
Para tentar melhorar a competitividade, a Associação que representa o setor aposta no diálogo entre o setor produtivo e o governo. A aposta é que a agenda seja acelerada com a aprovação da Reforma Tributária, como explica a diretora executiva de mercado externo da ABIMAQ, Patricia Gomes.
“Tem uma expectativa grande que essa reforma venha trazer maior competitividade para o setor. E passa também por outros pontos como o acesso ao financiamento — tanto para produção, quanto para um financiamento para o cliente, aqui no Brasil ou internacional, a gente tem proposto uma ajuda de melhoria junto ao BNDES.”
A compra de insumos a preços competitivos também faz parte da agenda do setor e vem sendo discutida com os poderes legislativo e executivo, ressalta a diretora.